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Jeep: ícone do 4x4 comemora 75 anos de história

19/07/2016 - 16:09 - Automotive Business - Fotos: Divulgação Jeep

Em 15 de julho de 1941, há 75 anos, a Willys-Overland assinava o contrato com o exército dos Estados Unidos, ponto de partida da história para a consolidação de uma das marcas mais icônicas do setor automotivo global: a Jeep. Com o acordo, o nome acabou sendo registrado e sua origem parte de duas vertentes: a primeira é que alguns argumentam que o nome Jeep derivou da pronúncia inglesa das letras GP, a sigla para general purpose (uso geral), característica do modelo, enquanto a segunda é que o veículo tomou o nome de um personagem de histórias em quadrinhos chamado Eugene the Jeep, da turma do Popeye: criado em 1936, ele podia fazer qualquer coisa e ir para qualquer lugar.

O fato é que a pedido do exército, o primeiro Jeep foi desenhado e criado para testes em apenas 49 dias. O projeto original pertencia à Kaiser-Frazer Corporation, uma pequena montadora que a partir da fusão com a Wyllis-Overland deu origem à Kaiser Jeep, futuramente (1970) se tornando uma subsidiária da AMC, American Motors Corportaion. Com papel fundamental na Segunda Guerra Mundial, onde foi utilizado para inúmeras funções, o veículo definitivo acabou sendo o Willys MB (M de militar e B por ser o segundo projeto), que teve 645 mil unidades produzidas entre 1941 e 1945.

O termo Jeep foi relacionado ao veículo pela primeira vez publicamente por Katherine Hillyer no jornal Washington Daily News, em 16 de março de 1941, quando relatou que ao final de uma demonstração à imprensa, alguém perguntou ao piloto de teste da Willys Irvin Hausmann como ele chamava aquele veículo e ele respondeu: “It's a Jeep!”

Nasce um ícone

Após a guerra, milhares de Jeep foram deixados para trás em diferentes países do mundo. Isso contribuiu para que a marca ganhasse presença global instantaneamente. Foi aí que o pequeno 4x4 surgiu com versões dedicadas ao público civil, originando uma linha de veículos que depois se tornaria uma marca. 

Com pouquíssimas modificações, a Willys transformou o MB no CJ-2A, lançando ainda em 1945 o primeiro veículo liberado pelo exército norte-americano para produção civil. A sigla CJ significa “Civilian Jeep”. O maior símbolo da marca Jeep, sua grade frontal com sete aberturas verticais, surgiu em 1945 com o CJ-2A, o primeiro modelo civil. O modelo militar MB tinha nove fendas frontais. O motivo da mudança foi o tamanho dos faróis, que ficaram maiores e, para isso, foi preciso diminuir a grade dos carros.

A banda de rodagem dos pneus do Jeep MB foi feita de forma simétrica, para que quem olhasse o rastro deixado não soubesse para qual direção o carro estava seguindo - uma herança do berço militar. Porém, a característica foi repassada para o CJ-2A. Logo após se tornar um carro civil, o Jeep foi muito usado por fazendeiros em virtude de sua versatilidade e durabilidade. O veículo também era conhecido como AgriJeep, pois com a utilização da tomada de força (power take-off) era possível, por exemplo, compartilhar o movimento do sistema de transmissão a um implemento agrícola. 

Logo após a Segunda Guerra Mundial, era difícil produzir novas estamparias. Por isso o Willys Wagon, que surgiu em 1946, foi desenhado para que as chapas da carroceria pudessem ser feitas por fornecedores de estamparias de geladeiras. O tamanho das estampas e a quantidade de curvaturas e de profundidade foram limitados. Além disso, o painel das portas era oco. O Willys Wagon foi o primeiro SUV 4x4 da história, e o primeiro SUV com a carroceria feita inteiramente de aço, em 1949.

Em 1952 surgiu outro modelo militar, o M-38A1 (ou MD), cujo design seria empregado pouco tempo depois no Jeep civil, na geração CJ-5. O CJ-5 se tornaria extremamente popular em todo o mundo, com mais de 600 mil unidades vendidas entre as décadas de 1950 e 1980, sendo produzido em vários países, incluindo o Brasil.

Em 1953, Mark A. Smith organizou o primeiro passeio para donos de modelos da Jeep pela antiga trilha Rubicon, nas Montanhas Rochosas do norte da Califórnia. Foi o embrião da Jeep Jamboree, uma empresa que realiza passeios pelas principais trilhas off-road dos Estados Unidos e se tornou uma instituição do turismo de aventura. 

Explorando a capacidade multiuso do modelo a Willys criou nos Estados Unidos em 1955 a versão DJ (Dispatcher Jeep), apenas com tração traseira e destinado a uso profissional, como serviços de entregas e correios. 

No Brasil

Ainda na década de 1940, a concessionária Gastal, do Rio de Janeiro, começou a importar os primeiros CJ-3A para o Brasil. 

A Willys Overland do Brasil foi a subsidiária da Willys no Brasil, fundada em 26 de agosto de 1952, em São Bernardo do Campo (SP), onde fica a atual fábrica da Ford, esta comprou a marca. Em 1954 suas linhas de montagem começaram a pôr nas ruas o Jeep Willys CJ-3B, ainda montados com as peças americanas e vendidos com o nome de jipe Universal. Robusto, com tração em duas ou quatro rodas e câmbio de três marchas com redução, logo o jipe se mostrou adequado às estradas e fazendas brasileiras. A versão Rural Willys surgiu em 1956 e no ano seguinte, as partes do veículo passaram a ser fabricadas no País, mas com design do modelo americano.

Em 1959 o motor também passou a ser brasileiro – um seis cilindros de 90cv de potência que viria a ser adotado na maioria dos veículos da montadora. O modelo foi atualizado e a carroceria recebeu capô e grade dianteira mais altos, por causa do novo motor; maior e mais forte. Por esse motivo, aqui no Brasil o carro recebeu o apelido de “Cara de Cavalo”. A família Jeep ganhou em 1947 a primeira picape, que teve produção brasileira entre 1961 e 1982.

Em 1956, a cantora Inezita Barroso fez uma expedição com um Jeep cedido pela Willys-Overland do Brasil. De São Paulo até a Bahia, foi recolhendo material para um trabalho etnográfico. O objetivo final era fazer um filme contando a história de Jovita, a cearense que se vestiu de homem para lutar na Guerra do Paraguai, porém a película não chegou a ser realizada.

Ontem e hoje

A história da Jeep no Brasil ainda conta com um novo capítulo, muito mais recente: a inauguração do novo complexo industrial de Goiana, localizado na Zona da Mata, região norte de Pernambuco. Por lá, a história renasce: entre 1966 e 1981 a Wyllis-Overland montou o Jeep Wyllis em uma fábrica no mesmo local onde está hoje a nova planta da FCA – Fiat Chrysler Automobiles. 

Em 2010, a Fiat comprou uma pequena fábrica de chicotes elétricos para veículos, a TCA, esta instalada em Jaboatão dos Guararapes, ao sul da região metropolitana do Recife. O objetivo era usufruir de uma carta de incentivos fiscais estaduais. Nesta época, o processo de fusão entre Fiat e Chrysler ainda estava em estágio inicial e não havia qualquer indicação ou plano de uma nova fábrica, ainda mais em Pernambuco.

Entretanto, quando a FCA decidiu ter uma fábrica no estado, a feliz coincidência histórica era que a empresa estava comprando o mesmo lugar onde foi montado o antigo Jeep Willys. Vale lembrar que a marca foi adquirida pela Chrysler em 1987. 

Assim, a antiga fábrica a ajudou a ressuscitar a Jeep em Pernambuco, mais de 30 anos após o fim da produção do veículo no Estado, com a criação da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) em 2014 e a subsequente decisão do grupo em fabricar o Jeep Renegade como primeiro produto do polo de Goiana, batizado com a mesma marca. 

Embora tenha se transformado em fábrica de chicotes – que fornece para o Polo Automotivo Jeep em Goiana e para várias outras montadoras –, a TCA guarda eternizada a história da Jeep no Estado. Em uma das paredes externas existe um mural de concreto feito em 1966 pelo artista plástico Carybé, auxiliado por Waldemar Nascimento, que conta a história econômica de Pernambuco. Incluído como personagem importante dessa trajetória, o mural tem gravada em baixo-relevo a imagem do antigo Jeep Willys. De indústria coadjuvante que montava 35 carros por dia (incluindo também a Rural), a marca reinstalada agora em Goiana se viabilizou em seu passado para se tornar agente protagonista da economia pernambucana.

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