Uma andorinha só não faz verão, diz o provérbio. Entretanto, para os irlandeses Don Cronin e Michael O’Shea, da Medazza Cycles, uma delas pode não apenas fazer valer a primavera de 2013, como o ano todo. Vencedora da edição deste ano do AMD World Championship, campeonato mundial de customização de motos realizado em Essen, na Alemanha, a Rondine – que significa andorinha em italiano – tem design minimalista, motor proveniente de uma Moto Guzzi e, ainda por cima, anda.
Enquanto nas motos convencionais o chassi assume o papel de estrutura sobre a qual a moto é montada, na Rondine o quadro está mais para uma peça que separa motor, assento e tanque, tal qual livros organizados em uma estante. A showbike de nome italiano não é uma moto equipada com um motor, mas sim um modelo construído ao redor dele. No caso, o exótico monocilíndrico horizontal oriundo da Nuovo Falcone, modelo produzido pela Moto Guzzi em 1971. “O monocilíndrico era um ponto crítico para o visual do projeto, uma vez que ele permite que a moto tenha perfil baixo. E perfil baixo sempre fica legal”, diz Don Cronin, criador da moto, em entrevista por e-mail.
O design “rebaixado” é favorecido também pelos toques de café racer aplicados ao projeto, tais como o tanque com laterais protuberantes, o assento de pouca espessura e o guidão, que mantém a mesma linha do tanque. O escape é outra peça digna de destaque. Para evitar canos salientes que estragassem a leveza do projeto, uma “estilosa” ponteira tripla, foi colocada pouco abaixo do grande cilindro, no curto intervalo entre o motor e a roda dianteira. Já na traseira, a curta rabeta recebeu a lanterna, sutilmente protegida por uma grade.
Mas, o propulsor italiano – cuja capacidade cúbica foi aumentada de 500 para 580 cm³ – não foi a única parte “emprestada para o projeto”. O garfo dianteiro também foi modificado a partir da balança de uma Harley-Davidson V-Rod. Todavia, é possível ver na Rondine outras inspirações em modelos da H-D. É o caso das rodas metálicas com interior totalmente preenchido semelhantes às da Fat Boy e os discos de freio com diâmetro exagerado lembram muito as peças que equipavam os modelos da Buell, fabricante que também era ligada à marca de Milwaukee.
Era uma vez dois invernos
O nome alusivo ao pequeno pássaro que aparece quando começa a primavera, ganha mais sentido quando Don Cronin explica o processo de produção da Rondine. “A moto foi construída em dois invernos. O redimensionamento do motor veio primeiro, com o novo pistão e a substituição de algumas peças por outras, mais leves. O restante da moto foi montado no inverno seguinte”.
A preocupação do pessoal da Medazza Cycles com a leveza e funcionalidade do projeto vão além de mera estética. Para participar do AMD Championship, cuja edição 2013 aconteceu em maio, as motos precisam ser capazes de rodar e fazer curvas. Mesmo as que participam da categoria Freestyle, na qual a Rondine venceu e onde competem projetos geralmente construídos do zero pelos customizadores.
Desta forma, o modelo foi equipado com um conjunto de suspensões funcional. Na dianteira, é possível ver o amortecedor “escondido” no garfo, atrás do farol, enquanto a mola e o amortecedor o traseiro foram montados horizontalmente acima do motor, onde se ligam com a balança.
Customização de garagem
Embora a originalidade da Rondine tenha lhe conferido o título de melhor projeto de customização de 2013 no AMD, Don Cronin comenta que o foco da customizadora Medazza Cycles sempre foi produzir modelos da maneira mais “pé no chão” possível. “Grandes negócios nunca foram o objetivo. As motos são construídas dentro de orçamentos realistas, utilizando habilidades artesanais e até um pouco de ingenuidade”, comenta.
Cronin acrescenta ainda que fazer motos é uma forma dos amigos se reunirem. “Eu dependo de dois ou três bons amigos – entre eles Michael O’Shea, com quem divide os créditos pela criação da Rondine – que fazem parte do processo de construção das motos. Nós somos mais amigos do que colegas e criar as motos acaba se tornando um evento social como qualquer outro”, finaliza.
Depois de conhecer o trabalho da irlandesa Medazza, ficamos no aguardo para ver quais outras máquinas criativas irão surgir cada vez que esses amigos se encontram.