A Kia Motors enfim decidiu se habilitar ao Inovar-Auto, política industrial para o setor automotivo que entrou em vigor este ano e tem validade até 2017. José Luiz Gandini, presidente do Grupo Gandini e da marca no Brasil, aponta que a exigência de melhoria da eficiência energética pelo programa foi o motivo da demora na decisão da empresa em se inscrever.
“Não podíamos fazer isso se a matriz, na Coreia, não assumisse o compromisso de produzir carros que consumam menos combustível”, explica o executivo. Segundo ele, após meses de negociação a corporação asiática enfim decidiu assinar um termo em que garante ao distribuidor brasileiro que os carros alcançarão as metas estabelecidas pelo Inovar-Auto. “Assinamos esse compromisso na tarde de ontem (3/12) e vamos levar ainda este mês o nosso pedido de habilitação ao governo.”
Inscrita no programa a companhia receberá cota anual de 4,8 mil veículos que poderão ser trazidos do exterior sem o adicional de 30 pontos no IPI. Apesar do volume pequeno, Gandini acredita que ele será capaz de reverter o decréscimo dos negócios da marca. Em 2011, antes do aumento do tributo, a Kia vendeu 80 mil veículos no Brasil. No ano seguinte, já com o aumento da alíquota, foram negociados 40 mil carros da marca. A previsão do executivo é encerrar 2013 com outra retração expressiva, para 29 mil unidades.
O dirigente avalia que o aumento do imposto teve impacto muito expressivo. “Se pensarmos em um carro com motor acima de 2.0, que normalmente teria alíquota de 25%, com o tributo majorado ele terá de pagar 55% de imposto sobre o preço final. Ou seja, um modelo que seria faturado para a rede por R$ 100 mil passa a chegar à concessionária por R$ 155 mil.”
Expectativas
Diante do cenário difícil para os importadores de grandes volumes, Gandini reconhece a importância da cota de 4,8 mil unidades. “Para o ano que vem esperamos leve crescimento, em torno de 1%, apesar de o setor automotivo como um todo estar trabalhando com possibilidade de queda.”
Além dos carros que serão importados dentro da cota, a empresa conta também com as vendas do caminhão Bongo, montado no Uruguai, país que tem livre comércio com o Brasil. Além disso, a Kia programa lançamentos para o mercado nacional, como o sedã de luxo Quoris e a nova geração do Soul, que chegará ao Brasil entre abril e maio de 2014.
Ainda que tenha leve crescimento no ano que vem, Gandini admite que a operação local da Kia enfrenta problema de rentabilidade na rede de concessionárias. “Os negócios diminuíram muito, mas trabalhamos para manter a rede, que hoje tem 153 casas.” Questionado sobre a possibilidade de voltar a ter vendas próximas de 80 mil unidades por ano, o executivo é categórico: “Isso só será possível se tivermos fábrica no País”. Segundo ele, o projeto de produzir localmente continua em negociação com a matriz coreana, mas sem nenhuma decisão.
Geely
Enquanto trabalha para adequar a operação comercial da Kia aos volumes menores de vendas, o Grupo Gandini prepara a chegada da chinesa Geely ao mercado nacional. Sob o comando de Ivan Fonseca, a importação dos carros montados pela companhia no Uruguai começa já em janeiro de 2014 com o primeiro lote do sedã EC7.
O automóvel que marcará a estreia da companhia chinesa no Brasil será equipado com motor VVT 1.8 com bloco de alumínio, e câmbio mecânico de cinco marchas. O carro só chegará ao País na versão completa, com equipamentos como ar-condicionado, direção hidráulica e bancos revestidos em couro.
O veículo é montado no Uruguai e será distribuído nacionalmente por 20 concessionárias da Geely. “O negócio será completamente independente”, esclarece Gandini. “Não venderemos carro chinês na rede da Kia”, complementa em tom de brincadeira.
No segundo trimestre do ano que vem a empresa planeja o lançamento do subcompacto GC2, também montado no Uruguai, com motor 1.0 de três cilindros. A operação nacional receberá 300 unidades por mês do modelo. Enquanto isso, está programada a importação de 200 veículos/mês do EC7.