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208: enfim, um Peugeot brasileiro e global

26/03/2013 - 11:09 - Automotive Business
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Chega no próximo 13 de abril às concessionárias Peugeot o hatch 208, o mais atual e importante lançamento já feito pela marca francesa no Brasil desde 1999, quando começou a vender aqui o 206, comprado por mais de 450 mil brasileiros em seus dez anos no mercado. O 208 evidencia uma mudança substancial na estratégia, para voltar a ter no País uma linha global de veículos atualizados tecnologicamente, similares aos disponíveis na Europa, abandonando o cansado golpe do produto-desenvolvido-para-as-necessidades-do-consumidor-brasileiro, um eufemismo repetido milhares de vezes na última década para justificar o corte de custos e aumento de lucros por meio da oferta de carros defasados – como fez a própria Peugeot em 2008 com o 207 nacional, uma versão melhorada do 206 que não acompanhou a evolução tecnológica do modelo europeu. Com o 208, essa história parece ter ficado para trás.

“É sempre importante para um construtor apresentar um novo produto, mas o 208 representa muito mais, pois simboliza a revitalização da marca no Brasil”, classifica Carlos Gomes, presidente na América Latina do grupo PSA Peugeot Citroën, que em fevereiro começou a produzir na fábrica de Porto Real (RJ) o novo modelo, após investir R$ 800 milhões para fazer o carro aqui menos de um ano após o lançamento na Europa, comprovando a atualidade da gama de produtos no mercado local. “Desafio qualquer um a apontar um fabricante que tenha conseguido fazer um carro global aqui em tão pouco tempo”, disse Gomes.

Apesar da rapidez, o 208 brasileiro nasce com índice de nacionalização alto: 84%. Fora da Europa, ele só é produzido no Brasil, onde a PSA escalou uma equipe de 780 pessoas, entre técnicos, engenheiros e pessoal de marketing, para viabilizar a produção nacional e fazer as adaptações necessárias, quase imperceptíveis em relação ao carro europeu. A suspensão foi recalibrada e a altura livre do solo aumentou 10 milímetros, a grade dianteira cresceu um pouco por causa do calor tropical, para ampliar a captação de ar para arrefecimento e ar-condicionado.

O Peugeot 208 tem modernidade, estilo, design emotivo e tecnologia dignos de boa nota. Hoje há pouquíssimos como ele por aqui. Não chegam aos cinco dedos de uma mão os modelos compactos (segmento B) feitos e vendidos no Brasil e que também estejam presentes nos mercados desenvolvidos e mais exigentes.

“Avaliamos que seremos premiados por essa estratégia, pois a ascensão social do consumidor brasileiro é um fato e nos próximos anos vai crescer o número de compradores de veículos de maior qualidade”, aposta Gomes. “O mercado brasileiro está em mutação para cima. Os carros de entrada, 1.0, há poucos anos representavam 60% das vendas e hoje são 45%. Essa tendência de elevação social deve continuar nos próximos dez anos”, avalia.

Versões completas

Seguindo essa estratégia, o 208 chega com design externo e interno bastante inovador e atraente, que capta a atenção das pessoas por onde passa, e é recheado de equipamentos de conforto e segurança. Há, contudo, um preço a se pagar por isso. O novo Peugeot brasileiro é bom, bonito e caro, situa-se na faixa de valor mais alta de seu segmento. Mas os executivos da marca estão confiantes que o forte apelo emocional do carro supere a barreira racional do preço. “Quem compra um Peugeot nunca é 100% racional”, afirma o diretor de marketing Frederico Battaglia.

Desde a versão de acabamento mais básica, a Active 1.5 (preço sugerido de R$ 39.990), são de série direção assistida elétrica progressiva, ar-condicionado, air bags frontais para motorista e passageiro, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força, além de acionamento elétrico de vidros, retrovisores e travas, com controle remoto na chave tipo canivete.

Subindo para a versão seguinte, a Allure, também equipada com o eficiente motor flex 1.5 de 93 cavalos (quando abastecido com etanol) e nota A de eficiência energética no programa do Inmetro, o preço salta para R$ 45.990 e o 208 vem com suas duas principais atrações: o teto envidraçado Cielo e a central multimídia, integrada por uma tela de sete polegadas instalada no centro do painel com comandos sensíveis ao toque, que reúne sistema de som, navegação por satélite GPS e Bluetooth para conexão com celular.

A versão topo de gama é a Griffe, com motor 1.6 16V de 122 cavalos e sistema de partida a frio para etanol sem tanquinho de gasolina; eficiente do ponto de vista do desempenho esportivo, mas um pouco menos econômico (tirou nota C na etiquetagem do Inmetro). Além do motor mais forte, as principais diferenciações são as rodas de liga leve com aro de 16 polegadas e a lanterna dianteira de LED. O preço, contudo, sobe bastante. Com câmbio manual de cinco marchas vai a R$ 50.690. Com opção de câmbio automático de quatro velocidades bate no teto de R$ 54.690.

O Peugeot 208 renova a identidade da marca com design inovador e cativante

Projeções

“O 208 será o Peugeot mais vendido do País, por isso é o lançamento mais importante dos próximos anos”, estima Frédéric Drouin, diretor geral da marca no Brasil. Ele confia em sucesso semelhante ao já conquistado na Europa, onde o modelo já teve 250 mil unidades comercializadas em menos de um ano desde o lançamento e atualmente é o hatch compacto mais vendido.

A projeção é vender de 2,5 mil a 3 mil unidades do 208 por mês, sendo 50% da versão intermediária Allure, 25% da Active (de entrada) e outros 25% da topo de gama Griffe, metade com câmbio automático.

Com seus preços e estilo, o 208 vai disputar o mercado dos hatchbacks compactos premium, que em 2012 representou 18% das vendas totais no País, com cerca de 500 mil carros vendidos.

Com seu novo modelo que pode chegar a vender 36 mil/ano, a Peugeot calcula que é possível abocanhar quase 1% do mercado nacional de veículos leves. Esse número sobe para 45,6 mil/ano e a participação porcentual avança para perto de 1,2% com a ajuda das 700 a 800 unidades/mês que a Peugeot estima continuar a vender do 207, lançado em aqui 2008 e agora só com motorização 1.4 e duas versões, de R$ 29.990 e R$ 32.500.

Se o design inovador e chamativo do 208 suplantar a barreira do preço alto, o plano da Peugeot tem grande chance de dar certo e a marca pode recuperar o terreno perdido nos últimos quatro anos seguidos. A participação no mercado nacional, hoje em torno de 1,7%, poderá voltar a encostar nos 2,5%, o que parece ser suficiente para as ambições do grupo PSA por aqui. “Não vamos brigar pelo segmento popular e não temos a ambição de sermos líderes, mas de produzir os melhores automóveis, com maior rentabilidade”, diz Carlos Gomes. “É preciso lembrar também que a vocação de qualquer empresa é ganhar dinheiro para remunerar seus investidores.”

Desempenho

As principais atrações do Peugeot 208: o teto envidraçado Cielo, a central multimídia no centro do painel e a posição de dirigir diferente, com o volante pequeno posicionado abaixo dos instrumentos.

Se o preço é alto para os padrões brasileiros, o prazer de dirigir também é. O 208 oferece uma experiência bastante única ao motorista. “Você entra em um novo mundo”, exagera Drouin. A sensação diferente está baseada em uma nova conformação ergonômica, com volante cerca de 10% menor do que os convencionais, posicionado abaixo do painel de instrumentos – quem dirige vê os marcadores acima da direção. Parece estranho, mas o resultado é bom, confortável.

Por fora o 208 parece bem mais compacto do que ele é por dentro. Ele cresceu apenas 9,5 centímetros em relação ao 207, mas os 2,54 metros de distância entre eixos, a maior entre os hatches compactos do mercado, garantem espaço de sobra para as pernas de quem viaja na frente ou atrás – uma raridade em carros desse segmento.

Dirigido em um percurso misto de estrada e cidade, o 208 foi muito bem com ambas as motorizações, 1.5 e 1.6. As acelerações e retomadas são rápidas, o comportamento dinâmico do carro mostrou-se preciso e seguro, os freios respondem sem hesitações.

Pós-venda

Com a renovação e globalização da linha de produtos, a Peugeot também tenta se redimir de um de seus principais defeitos no Brasil: o atendimento caro e deficiente do pós-venda. Assim como o resto dos novos produtos da marca, o 208 tem três anos de garantia e preços fixos de revisão, que para as versões 1.5 somam R$ 810 nas três primeiras, ou 30 mil quilômetros, e R$ 890 nas opções com motor 1.6. O fabricante garante que em ambos os casos os pacotes estão entre os mais acessíveis do mercado.

“Virou um mito a ideia de que o pós-venda da Peugeot é alto”, diz Battaglia. Ele também informa que os preços de reparação e seguro são competitivos. Segundo pesquisa do Cesvi, a cesta básica de peças do 208 é uma das três mais baratas e o seguro, em torno de 5% do valor do carro, é o segundo mais baixo do mercado para a categoria.

Com o 208, talvez seja possível acabar com o maior dos mitos do mercado brasileiro de veículos, segundo o qual não seria possível produzir modelos globais no Brasil. Ao que tudo indica, agora pode.

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