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Até junho, está em vigor o regime “flex” para o comércio de peças e veículos entre os dois países, pelo qual as exportações estão limitadas ao máximo equivalente a 1,95 vez o valor total das importações. Para cada dólar importado, cada país pode exportar ao outro até US$ 1,95 sem taxação. Na prática, esse limite se mostrou bastante folgado e nenhum dos dois lados teve dificuldade para cumpri-lo nos últimos anos, criando um livre comércio de fato. Por isso o governo argentino ameaça apertar as regras.
A Argentina é atualmente o terceiro maior parceiro comercial mundial do Brasil e o maior no Mercosul, tanto para as exportações, de US$ 18 bilhões em 2012, como importações de lá que somaram US$ 16,4 bilhões no mesmo período. O setor de transportes, que inclui veículos, autopeças, máquinas e chassis, representa nada menos que a metade da corrente de comércio entre os dois países, com US$ 9,1 bilhões em vendas brasileiras aos argentinos e US$ 8,1 bilhões em compras do país vizinho, o que deixou a Argentina com déficit setorial de US$ 1 bilhão, ou 62,5% de todo o saldo de US$ 1,6 bilhão da balança a favor do Brasil no ano passado.
Devido à grande relevância do setor automotivo para a corrente de comércio entre os dois países, a Argentina mostra a intenção de impedir a abertura total desse mercado antes mesmo de as negociações começarem formalmente, para assim pressionar o governo brasileiro a incentivar o adensamento da cadeia produtiva também no vizinho. Segundo reportagem publicada pelo Valor Econômico na segunda-feira, 11, os argentinos querem garantias que haverá compras de peças produzidas no país – o que pode ser inviável, pois muitos fornecedores foram embora após a crise de 2001.
Rombo das autopeças
mercial argentino está na cadeia de suprimentos de componentes para as fábricas de veículos instaladas no país, que produzem modelos com grande quantidade de itens importados. Em 2012, o Brasil exportou à Argentina US$ 4,12 bilhões em autopeças, enquanto no fluxo contrário os brasileiros compraram de lá pouco menos que um terço disso, US$ 1,52 bilhão.
A situação é oposta na corrente de produtos acabados, em que o país vizinho teve superávit de US$ 1,92 bilhão. No ano passado, as montadoras instaladas no Brasil pagaram US$ 6,45 bilhões pelos 351.945 automóveis que trouxeram de suas contrapartes na Argentina. O volume representou 44% dos veículos importados emplacados no mercado brasileiro em 2012. Na mão contrária, no mesmo período os argentinos importaram 331.980 unidades, correspondente a 75% das exportações brasileiras de veículos, pelo valor total de US$ 4,53 bilhões.
A grande maioria dos fabricantes de veículos instalados no Brasil também tem fábricas na Argentina, onde produzem carros de maior valor agregado, mas com grande quantidade de componentes importados, inclusive de fora do bloco do Mercosul. Se o governo argentino exagerar na dose da pressão, exigindo medidas imediatas, os brasileiros podem perder o seu maior mercado externo de veículos (um dos poucos que restaram), mas também poderá inviabilizar a produção no país. Seria uma batalha sem vencedores.
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