Com etanol ou gasolina, XRE 300 Flex enfrenta qualquer caminho

Em meados da década de 1960, a Honda lançava seus primeiros modelos da família XR, uma série de motocicletas off-road equipadas com motores monocilíndricos de quatro tempos. Inicialmente, as motos eram voltadas totalmente para o uso fora da estrada, mas com o passar dos anos a marca lançou versões “legalizadas” para rodar nas ruas, ou seja, equipadas com piscas, farol, lanterna traseira, velocímetro e espelhos retrovisores. O primeiro modelo a chegar ao Brasil foi a XL 250R, na década de 1980.

O mais recente dos modelos trail da marca, a XRE 300, chegou às ruas em 2009, com uma missão quase impossível, a de substituir, ao mesmo tempo a XR 250 Tornado e a NX 400 Falcon. Com um motor de 300 cc e opção de freios C-ABS (freios combinados com o auxílio do ABS), a nova moto on/off-road da marca da asa demorou a fazer sucesso, mas após um ano já se tornou a mais vendida da categoria.

Diferentemente de suas antecessoras, ela recebeu o sistema de injeção eletrônica de combustível para se adequar às leis de emissão de poluentes do Promot 3. As vendas acumuladas de 2012, 33.307 unidades, a posicionaram como a segunda motocicleta trail mais vendida do Brasil, atrás apenas da pequena Honda NXR 150 Bros, com 192.580 unidades vendidas ano passado.

No início deste ano, a empresa lançou a versão bicombustível da XRE 300 (modelo somente a gasolina não é mais fabricado), que sofreu pequenas modificações estéticas em relação ao modelo do ano anterior e ganhou um tanque maior (agora com 13,4 litros). As aletas laterais estão mais harmônicas com o desenho da moto; e os novos grafismos, como a letra X em destaque na lateral, deram a ela um “ar” mais agressivo. O paralama dianteiro com farol integrado continua inalterado, assim como o painel de instrumentos e os comandos de punho que, por sinal, equipam a maioria das motos da linha da Honda no país. A única alteração no painel foi a inclusão da luz ALC, que avisa sobre a possível dificuldade de partida a frio em temperatura ambiente inferior a 15°C e com mais Etanol no tanque.

A unidade testada por nós não contava com o sistema C-ABS (disponível somente na cor vermelho metálico). Nesta avaliação utilizamos uma versão Standard.

Motor e consumo

Motocicletas trail unem a agilidade da categoria street com o conforto e versatilidade das aventureiras. E a Honda XRE 300 Flex entrega exatamente o que promete. Para começar, seu motor monocilíndrico de 291,6 cm³ é capaz de produzir 26,1 cv a 7.500 rpm e 2,81 kgf.m de torque a 6.500 rpm quando abastecida com gasolina e 26,3 cv a 7.500 rpm e 2,85 kgf.m de torque aos 6.500 giros com o etanol. Apesar dos números, dificilmente o condutor irá sentir diferença de desempenho entre os dois tipos de combustíveis.

Porém, há divergência no consumo. Durante o teste, quando rodou com gasolina, a XRE fez uma média de 21,8 km/l (6,58 litros em 143 km). Já com o combustível feito a partir da cana de açúcar, a moto percorreu 19,4 km com um litro (11,09 litros em 205 km). Com um tanque com capacidade para 13,4 litros a autonomia com gasolina deve chegar próximo aos 292 km e com etanol perto dos 259 km.

O desempenho do motor é satisfatório e o esperado para sua capacidade cúbica e cavalaria. Sem forçar o motor, a XRE pode rodar a 120 km/h na rodovia e há torque suficiente para ultrapassagens, mas dependendo da velocidade e inclinação, uma redução de marcha será necessária. A caixa de câmbio de cinco velocidades tem um escalonamento e encaixes bons, mas o engate do neutro é um tanto “chato”, principalmente na reduzida de segunda marcha. Acima dos 120 km/h, o propulsor vibra um pouco e uma sexta marcha seria muito bem vinda, principalmente para rodar na estrada.

Ciclística e ergonomia

O chassi da XRE 300 Flex é do tipo berço semiduplo em aço, herdado da aposentada XR 250 Tornado. Ele traz rigidez e resistência ao conjunto e ainda protege a parte de baixo do motor. A posição de pilotagem ereta facilita a condução no trânsito das grandes cidades, já que o piloto consegue enxergar o tráfego a sua frente. Passar pelos corredores formados entre os carros também é tarefa fácil, já que o guidão passa por cima da maioria dos retrovisores dos automóveis (exceto vans, SUVs e caminhonetes).

O banco largo, de espuma macia e em dois níveis, garante maior conforto para o piloto e garupa, tanto no deslocamento do dia a dia, quanto em viagens um pouco mais longas. Outro equipamento que auxilia a vida de ambos é o bagageiro em alumínio com alça para o passageiro integrada e suporte para instalação de bauletos.

A roda de aro 21 na dianteira e 18 na traseira, a suspensão telescópica de 245 mm de curso na frente e o monoamortecedor com links e 225 mm de curso atrás garantem menos impacto nos braços e costas do condutor ao transpor as falhas e obstáculos da via, como buracos, valetas e lombadas. Os pneus Metzeler Enduro 3 de uso misto oferecem boa aderência no asfalto.

Os freios da XRE impressionam, mesmo nesta versão standard, sem o sistema C-ABS. Se compararmos com suas concorrentes na categoria, não há como negar: o poder de frenagem da trail da Honda é melhor, mais preciso e eficiente. Na dianteira, disco simples de 256 mm com pinça de dois pistões e disco de 220 mm mordido por pinça de um pistão.

Fora da estrada

Na terra, a XRE tem força o suficiente para transpor obstáculos, e encarar subidas íngremes e acidentadas. Nas situações mais adversas, o motor irá pedir redução de marcha, mas o torque garante que o piloto conseguirá chegar a seu destino. A capacidade de seu propulsor nas empreitadas no off-road não são iguais as de legítimas motos de cross, mas permite incursões em estradas de terra e até mesmo trilhas leves e curtas.

O quadro e chassi da moto oferecem bom desempenho no off-road, mas seu peso, 144 kg a seco (sem fuídos e combustível), dificulta um pouco a vida do piloto em certas ocasiões, como em um atoleiro. A aderência dos pneus Metzeler nos pisos não pavimentados não é aquela maravilha, mas, com a calibragem correta, a XRE encara sem problemas todos os tipos de terrenos acidentados.

Concorrentes

No mercado nacional, a XRE 300 Flex encontra apenas duas concorrentes diretas na categoria. A Yamaha Lander XTZ 250 tem um perfil mais esportivo, com banco mais estreito e de espuma mais dura, tanque de combustível menor e estilo mais agressivo. Porém, é mais ágil, mais leve e mais barata: custa R$ 12.440. Já a Yamaha XTZ 250 Ténéré, tem as mesmas características da moto da Honda, com banco mais largo em dois níveis e espuma mais macia, tanque de combustível de maior capacidade, painel fixo e aparência mais aventureira. A máquina da marca dos três diapasões sai por R$ 13.490.

A versão standard da XRE 300 Flex pode ser encontrada nas concessionárias Honda por um preço público sugerido de R$ 13.550 nas cores branco, preto metálico e vermelho metálico.
 
Ficha técnica Honda XRE 300 Flex

Motor Arrefecimento a ar, DOHC, monocilíndrico, quatro tempos.
Capacidade cúbica 291,6 cm³
Potência máxima (declarada) 26,1 cv a 7.500 rpm (gasolina) / 26,3 cv a 7.500 rpm (etanol)
Torque máximo (declarado) 2,81 kgf.m a 6.500 rpm (gasolina) 2,85 kgf.m a 6.500 rpm (etanol)
Câmbio Cinco marchas
Transmissão final corrente
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro Berço semiduplo em aço
Suspensão dianteira Garfos telescópicos com 245 mm de curso
Suspensão traseira Amortecedor Pro-link com 225 mm de curso
Freio dianteiro Disco simples de 256 mm de diâmetro
Freio traseiro Disco simples de 220 mm de diâmetro
Pneus 90/90-21 (diant.)/ 120/80-18 (tras.) Metzeler Enduro 3
Comprimento 2.171 mm
Largura 830 mm
Altura 1.181 mm
Distância entre-eixos Não disponível
Distância do solo Não disponível
Altura do assento Não Disponível
Peso em ordem de marcha Não disponível
Peso a seco 144 kg
Tanque de combustível 13,4 l
Cores Branco, Vermelho metálico, Preto metálico
Preço sugerido R$ 13.550,00 (versão standard)