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Antes de falar do desempenho da Ducati 1098 no teste dinâmico do qual participei no circuito de Kyalami, na África do Sul, é preciso descrever as muitas novidades técnicas dessa moto.
Evolução
A começar pelo motor Testastreta Evoluzione. Como o próprio nome diz, trata-se de uma evolução do Testastreta da antecessora Ducati 999. A maior capacidade cúbica é apenas uma das novidades. O conjunto motriz é mais compacto, com menor ângulo no duto de admissão, de formato ovalado, como no motor da Desmosedici, moto da marca na MotoGP.
Traz também novo cabeçote, com balancins de abertura e fechamento das válvulas redesenhados e mais leves. Além disso, o ângulo das válvulas foi alterado. Graças a essas mudanças, a taxa de compressão saltou de 11,4:1 para 12,5:1, um ganho considerável que proporcionou ao motor uma curva de potência bastante eficiente desde o princípio da aceleração.
Sem se preocupar com os números das concorrentes japonesas, o propulsor da 1098 oferece orgulhosamente 160 cv de potência máxima a 9.750 rpm para seus 173 kg a seco. Mas o importante mesmo neste dois-cilindros em “L” (um V2 disposto a 90º) é seu torque de 12,5 kgm já nas 8.000 rpm. Com as mudanças citadas, os 160 cv chegam de forma controlável, o que é muito bom, diga-se de passagem.
Regime
Outro objetivo do projeto foi baixar o peso da nova Superbike. Assim, cada peça da antiga 999 foi desmontada e pesada separadamente. Os novos componentes teriam que manter o mesmo desempenho e confiabilidade, mas passando por um regime.
Na parte estrutural o chassi foi redesenhado para conter apenas o necessário. O subchassi traseiro ficou menor e 1,5 kg mais leve. Assim, peça a peça, o regime resultou na “perda” de 13 kg – a 999 pesava 186 kg e nova 1098 pesa 173 kg (a seco). O monobraço traseiro perdeu peso, mas ganhou rigidez.
Ciclística
As suspensões da 1098 standard são exemplares, porém, um pouco macias para a utilização em competição. Suas rodas fundidas ficaram mais leves. Já na 1098 S, versão mais racing, as rodas forjadas são as mais leves disponíveis em uma moto de produção. A versão “S” ainda vem equipada com bengalas e amortecedor traseiro Öhlins, espetaculares na pista, mas acredito que um pouco duras para as estradas brasileiras. Veremos.
Os freios são um capítulo à parte. Contando com a cumplicidade da Brembo, a 1098 traz um sistema inédito em motos de rua. São dois discos dianteiros de 330 mm que, além de maiores, são mais grossos que os anteriores e mesmo assim mantiveram o mesmo peso. Mas é na pinça de freio com estrutura monobloco que está o grande pulo do gato. Oriunda das motos dos mundiais de SBK e MotoGP para a 1098, esta tecnologia resulta nos freios mais poderosos jamais utilizados em uma moto de rua.
Na pista
Depois de tantas novidades, era preciso ver o que significavam na pista. Logo ao sair dos boxes, já descobri que é fácil domar a nova 1098. Mas, não se engane, não se trata de uma moto boba. Ela apenas foi projetada para ser eficiente, sem nada a mais ou a menos.
A entrega de potência é poderosa e linear, sem sobressaltos em nenhum momento. O som grave do bicilíndrico sobe forte à medida que a velocidade aumenta. Para um fã de motores quatro-cilindros em linha, a resposta pode parecer estranha, mas basta olhar para o velocímetro ou para o cronômetro e perceber o que está acontecendo.
As características do motor da 1098 permitem retomar a aceleração mais cedo, em plena curva, sem sustos. O que, na prática, significa tempos menores a cada volta.
O comportamento do chassi, um pouco mais flexível que o anterior, é exemplar. A motocicleta se mostrou ágil e ao mesmo estável nas mudanças de direção e absolutamente instintiva. Não é preciso “entender” a moto para se dar bem com ela, basta sentar e pilotar. O conjunto de suspensões é perfeito na versão standard para a utilização nas ruas e estradas e as suspensões Öhlins, da versão S, mais firmes, são ideais para a pista.
Os freios são incríveis e exigem uma adaptação às avessas. É preciso cuidado para não frear demais, pois eles são muito eficientes. Depois de testar a 1098, você vai achar qualquer outro freio inferior. Além disso, não se esqueça de, ao final de cada volta, apertar o lampejador do farol para cronometrar seu próprio tempo.
Mas, depois de todas as voltas na pista, suor derramado, freios quentes, borracha queimada, a 1098 ainda tem mais a lhe oferecer. Enquanto a besta descansa nos boxes, você pode analisar em um gráfico de telemetria, toda a sua performance na pista. Como? Basta tirar a tampa da rabeta, remover um Pen Drive com todos os dados do treino e plugar no computador. Aparecerá na tela um gráfico idêntico ao utilizado pelas equipes dos campeonatos mundiais mostrando a temperatura do motor, velocidade, RPM, marcha engatada, posição do acelerador e distância percorrida. Ah, claro, e o seu tempo de volta.
Se você gosta de contar vantagens sobre seu dia de treinos ou sobre o último passeio, tudo estará lá para embasar ou desmentir suas histórias. Se você estava na pista treinando a sério, conta com uma ótima ferramenta de trabalho.
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