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Um ponto a ser elogiado foi o de levar o assunto motocicleta para dentro de uma das mais conceituadas instituições de ensino do planeta, a USP. Neste fórum altamente democrático sentaram-se à mesa especialistas da USP, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e da Abraciclo. O público participou dos debates e auxiliou os especialistas a identificar os principais problemas nesta relação motociclista versus motorista.
Falta de educação
De cara uma coisa ficou clara, falta consciência e educação por parte dos condutores. Além disso, a motocicleta é um veículo frágil e muitos pilotos abusam da sorte. “Precisamos melhorar a imagem da motocicleta. A moto é um meio de transporte racional, sinônimo de mobilidade, porém deve ser usado com responsabilidade”, afirma Nicolás Lagomarsino.
Motociclista desde 1971, o palestrante sugeriu campanhas educativas, criação de um disque-denúncia para punir os infratores sobre duas rodas, sinalização específica para as motos e disciplinar o uso do “corredor”.
Pensando em facilitar a vida do motociclista, o Departamento de Engenharia de Transportes da Poli-USP pretende elaborar um estudo na qual as faixas das vias tenham larguras variáveis, de acordo com o tipo de veículo. Outra proposta é a criação de uma faixa exclusiva para as motos entre as pistas da esquerda e central. Depois de concluído, o estudo será levado para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo.
Corredores
Para Nancy Schneider, gerente de Trânsito da Diretoria de Operações do CET, um dos grandes problemas enfrentados no caótico trânsito de São Paulo é a utilização dos corredores pelos motociclistas. Ignorados pelos órgãos público, esta faixa imaginária entre os carros são vias naturais para uma maior fluidez das motos. “Tendo como referência uma motocicleta de 125/150 cc, sobram apenas cinco centímetros da cada lado para o motociclista passar entre os carros. O perigo de acidente é eminente e por isso sou contra a sinalização de corredores para as motocicletas”, conta a gerente da CET, dizendo que outra causa de inúmeros acidentes é a mudança de faixa, já que muitas vezes o motociclista está no “ponto-cego” dos carros, ônibus e caminhões.
Para Dirceu Rodrigues Alves Jr., diretor do Departamento de Medicina Ocupacional da Abramet, a indústria do trânsito gera mais de 380 mil vítimas por ano. Para dar assistência aos acidentados, o estado gasta mais de US$ 28 bilhões entre resgate, pronto-atendimento, remédios, leitos etc. “Vivemos um caos, uma grerrilha urbana. No caso de acidentes com motos, 77% acontecem de dia, com pista seca. Ou seja, abuso, imprudência etc. Precisamos mudar esta situação”, conta o especialista.
“A utilização da motocicleta foi uma evolução dos meios de transporte. Hoje, o indivíduo deixa o carro em casa e vai trabalhar de moto. A moto é uma necessidade, uma facilidade, uma realidade. Porém deve ser encarada com muita responsabilidade. A moto e o motociclista são frágeis. Precisamos nos conscientizar dos riscos. Termos que humanizar o transporte e minimizar os riscos. Minhas sugestões são criar vias próprias para veículos leves, padronização de itens de segurança para motos e motociclistas. Precisamos de medidas imediatas para corrigir estes desvios de rotas”, conclui o médico.
Para Cicero Lima, editor da revista Duas Rodas, a realização do Fórum Desafio em Duas Rodas - a convivência entre automóveis e motos nos grandes cidades -, é apenas a ponta de um iceberg. “Agora, com a ajuda da Poli-USP essa discussão será levada adiante, com a criação de grupos de trabalho. A idéia é apresentar soluções aos organismos competentes. Não queremos um “11 de setembro” todo mês no Brasil”, referindo-se aos quase 3.000 mortos por acidente de trânsito no País, um número semelhante aos mortos no atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque.
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