Etios chega a Campo Grande e coloca Toyota na categoria dos populares

No último dia 28, a concessionária Toyota de Campo Grande, Kampai, reuniu a imprensa em geral e clientes para conhecerem o Etios, carro de entrada da marca e que aposta na categoria dos “populares” para abocanhar uma fatia do mercado. Mas esse trabalho promete ser bem difícil para a montadora nipônica.

Ao chegar no show room da marca, já era visível a tentativa de evitar comparativos com Corolla (carro mais vendido no mundo) e as picapes da linha Hilux (referência no segmento). Somente 2 unidades do Etios, uma hatchback e outra sedã (ambas na versão topo de linha XLS) enfeitavam o local. Os outros carros da marca, foram “escondidos” para que os olhares fossem voltados somente para as novidades.

Mas, como a grande maioria dos clientes presentes já conhece bem os carros da marca, era inevitável a comparação. “Vim pensando em ver um mini-Corolla, mas o carro é bem inferior”, disse um dos clientes presentes.

E o carro realmente merecia um trabalho um pouco mais refinado, tanto no acabamento interno, quanto no design de gosto duvidoso. Falta qualidade para que o carro fosse merecedor de nosso aval. O grande problema está em suas limitações e no nível abaixo do apresentado por muitos adversários.

Preços e versões

Com o objetivo de vender 70 mil unidades por ano, inicialmente, a fabricante revelou os preços oficiais e quatro versões de acabamento do compacto, além de declarar que o carro terá três anos de garantia. Os nomes são, na ordem, Etios, Etios X, Etios XS e Etios XLS, para os dois tipos de carroceria. Os preços aqui em Mato Grosso do Sul são os que seguem:

Etios hatch
-- 1.3: R$ 29.990 - ficha técnica
-- 1.3 X: R$ 34.500 - ficha técnica
-- 1.3 X (com ar-condicionado): R$ 37.200 - ficha técnica
-- 1.3 XS: R$ 39.800 - ficha técnica
-- 1.5 XLS: R$ 43.800 - ficha técnica

Etios sedã
-- 1.5 X: R$ 37.200 - ficha técnica
-- 1.5 X (com ar-condicionado): R$ 39.000 - ficha técnica
-- 1.5 XS: R$ 42.500 - ficha técnica
-- 1.5 XLS : R$ 45.700 - ficha técnica

Novo com cara de velho

A Toyota faz questão de ressaltar que o Etios é um carro feito por brasileiros e para brasileiros. E isso é uma pena! Talvez fosse melhor lançar um carro feito pelos japoneses mesmo, como, por exemplo, o Yaris. Em uma rápida busca pela internet é fácil fazer um comparativo entre os dois carros da marca.

Em se tratando de design, o Etios tem um desenho antiquado, lembra o de compactos criados durante a década de 1990. Basta buscar pelo Yaris de 1999 e comparar. Fica claro que o Yaris, não o Etios, tem linhas mais bem resolvidas. Deveria ser o contrário.

É impossível fazer esses comparativos, já que a Toyota é maior montadora do mundo e conhecida pelo trabalho refinado de seus carros, inclusive em mercados ditos emergentes como o brasileiro. Sabemos que o Etios faz parte de um projeto global para esses países e que tanto carroceria como painel foram feitos para agradar mais ao público da Índia, onde o Etios chegou antes, do que a nós brasileiros. Para nosso mercado, houve adaptação de materiais, com ligeira melhoria de estética. Mas parece que deixaram para cuidar do design (exterior e interior) nos 45 minutos do segundo tempo.

Lateralmente, o Etios chega até a lembrar o Nissan March. De frente, um Renault Logan -- dois carros que são referência em equipamento e aproveitamento de espaço, mas não em visual... Por sorte, a turma que toma conta do acabamento teve um pouco mais de preocupação.

Internamente

Vale ressaltar o espaço interno do Etios. Cabem facilmente 4 pessoas de 1,80m. Mas é só. Colocar um quinto integrante, mesmo que baixinho, vai ser sinônimo de aperto, ainda mais em longos percursos.

Mas o acabamento segue os defeitos do design. O interior do Etios é agradável e a sensação é de estar mesmo dentro de um carro japonês, ao menos por conta do bom isolamento acústico.

Mesmo com apliques de plástico de boa qualidade, faltou capricho na montagem final. O tampão que cobre o painel de instrumentos central parecia querer soltar a um puxão um pouco mais forte. Mas isso é comum em carros “pré-série”, os primeiros que chegam ao mercado. No entanto, não pode ser uma regra.

O painel de instrumentos central não é o dos mais agradável e comum. Típico de projetos mundiais que buscam a economia na hora de utilizar tanto a mão inglesa de direção quanto a nossa, ele é de difícil visualização e em certos momentos até perigoso. Ao passar por um radar, em um primeiro momento me vi perdido de saber em qual velocidade estava. Mas como disseram os vendedores, “é questão de costume”. Será?

Andando com o carro

Infelizmente, a concessionária Kampai não tinha muitos carros para o teste da imprensa especializada da região, da qual o ShopcarNews faz parte. Assim, precisamos esperar bastante para andar em um dos carros de test drive disponíveis e assim mesmo só foi possível andar no Etios Sedan XLS 1.5 16v DOHC, topo de linha.

Ao entrar no carro, o espaço interno se destaca de cara. Eu tenho 1,75m e ainda deixei muito espaço para um possível passageiro no banco de trás. Mas o painel central conseguiu chamar muita atenção. Mesmo eu que sou acostumado com novidades, me vi meio perdido com os marcadores de velocidade e giro do motor.

O banco envolve bem o motorista, mas ficou devendo o ajuste de altura. Já o volante, tem regulagem, mas somente de altura – enquanto muitos concorrentes possuem também em profundidade.

A montadora nipônica faz questão de destacar que seus motores são modernos e dos mais potentes em suas categorias, mas será? Voltando aos comparativos, é possível fazer um raciocínio rápido e colocar, por exemplo, o motor 1.5 da família, com 96,5 cv, para brigar com o 1.4 Econoflex de 8V da GM, que rende até 102 cv com etanol. Isso prova que, mesmo mais novos e com 16V, os motores do Etios estão "defasados" -- enquanto as outras marcas apostam em downsizing, motores três-cilindros (como no Hyundai HB20 e Kia Picanto) e/ou a utilização de turbo, a Toyota preferiu continuar no arroz-com-feijão dos motores naturalmente aspirados e de mecânica simples.

Infelizmente, nosso teste foi muito rápido. Ao todo foram 10 minutos para podermos avaliar tudo no carro. Com isso, muita coisa fica de fora, principalmente o consumo. Mas vamos divulgar os números oficiais. De acordo com o adesivo do Inmetro, colado nos carros, o motor 1.5 é de classificação A e faz 8,5 km/l na cidade e 8,9 na estrada (quando abastecido com etanol). Já quando é abastecido com gasolina, no caso do nosso carro de teste, ele faz 12,4 km/l na cidade e 13,4 na estrada.

O câmbio com engates certeiros, apesar de longos em algumas marchas, colabora. Um leve ajuste nas relações da transmissão deixaria o carrinho mais gostoso de dirigir. Mas ele tem bom fôlego, mesmo com o ar-condicionado ligado.

A suspensão do Etios -- tradicional, do tipo McPherson na dianteira e por eixo de torção na traseira -- é bem ajustada. A carroceria tomba um pouco em trechos mais sinuosos, mas nada anormal: o compacto tem estabilidade e passa solidez. É um carrinho parrudo, se é isso que o dono de Corolla quer saber. A versão sedã, por causa do porta-malas avantajado, tende a balançar muito mais.

A direção é elétrica e muito leve em manobras, característica que faz sucesso entre as mulheres e nem tanto com os homens. Mas fica mais pesada com o aumento progressivo da velocidade.

Veredicto

Como dito, o Etios é espaçoso, agradável ao rodar e silencioso, típicas características de carros maiores e mais caros. A fama e o sucesso que a marca conquistou no país vão fazer os donos e/ou fãs de Corolla irem atrás do carrinho, como segunda ou terceira opções.

E ele vai vender bem (pode apostar que a meta de 70 mil unidades/ano que a marca quer atingir será alcançada). É um carrinho oportunista, que vai cavar vaga em muita garagem por aí. Mas não é protagonista. Afinal, há muito o que melhorar.