Honda NC 700X tem visual aventureiro, mas proposta urbana

À primeira vista, a Honda NC 700X, que acaba de ser lançada no Brasil, pode até parecer uma moto pronta para encarar aventuras por qualquer caminho. Mas a vocação off-road para por aí, esbarrando principalmente nas rodas de liga leve de apenas 17 polegadas, muito mais voltadas para o asfalto. “Esse conceito de crossover é muito usado nos carros com visual mais utilitário e robusto, mas com o conforto de um sedã”, explica Alfredo Guedes, engenheiro da Honda.

O novo modelo tem como proposta ser ágil na cidade e uma opção para quem usa a moto diariamente. Com um desenho moderno, um de seus principais diferenciais é ser dotada de um compartimento para capacete no lugar do tanque – que foi posicionado na traseira para contribuir com a centralização de massas e fazer dela uma moto fácil de pilotar. Outra novidade é seu motor inédito de dois cilindros paralelos, inclinados a 62°, que privilegia o torque em uma ampla faixa de giros em detrimento da potência em altas rotações.

Motor bicilíndrico

Apresentado como um propulsor econômico, o inédito bicilíndrico em linha de 669,6 cm³ tem comando único no cabeçote (SOHC), quatro válvulas por cilindro, e refrigeração líquida. Com intervalo de ignição de 270° comporta-se de forma diferente de outros propulsores de dois cilindros. Seu comportamento lembra até mesmo um dois cilindros em “V”, mas sem a vibração excessiva, já que conta com eixo antivibração.

Compacto, o motor traz os coletores de admissão e exaustão integrados ao bloco do motor. Alimentado por injeção eletrônica – com apenas um bico injetor - produz 52,5 cavalos de potência máxima a 6.250 rpm e oferece torque máximo de 6,3 kgf.m a 4.750 rpm. Nota-se que o propulsor tem um projeto simples para ter baixo custo e também oferecer economia de combustível.

O motor ainda equipa outros dois modelos mundiais da Honda, da família chamada de “New Concept”, daí o NC, (novo conceito, em inglês), que ainda conta com a naked NC 700S e o scooter Integra NC 700D. Os três compartilham a mesma plataforma: motor, quadro e rodas. Cada modelo tem suspensões e um desenho mais de acordo com a sua proposta. Uma forma de baratear o projeto e a produção desses modelos. Outra premissa da família NC é de ser uma opção acessível também na pilotagem, privilegiando assim quem usa a moto como meio de transporte. Porém, segundo a fábrica japonesa, não há planos de trazer a versão “S” e nem o scooter Integra para o Brasil.

Ciclística

A parte ciclística mantém a simplicidade e a eficiência: um quadro tubular de aço do tipo diamante com suspensões convencionais. Na dianteira, garfo telescópico com 153,5 mm de curso. Na traseira, conta com monoamortecedor fixado por links, com 150 mm de curso, e regulagens de pré-carga da mola. Uma construção que faz da NC 700X uma moto bastante esguia e não muito alta – o banco está a 831 mm do solo.

Equipada com rodas de liga-leve de 17 polegadas de diâmetro, a NC 700X confirma sua proposta urbana com pneus esportivos sem câmara, próprios para se rodar no asfalto, nas medidas 120/70, na frente, e 160/60, atrás.

Quando o assunto é o sistema de freios, a NC 700X oferece duas versões: com ou sem ABS. A Standard tem disco de 320 mm de diâmetro na dianteira e pinça de dois pistões. Na traseira, o disco único de 240 mm de diâmetro é acionado por pinça de um pistão. Na versão com freios Combined ABS (C-ABS), apresenta, na dianteira, pinças de três pistões. O sistema reúne ABS (Anti-lock Brake System) e o CBS (Combined Brake System). Enquanto o primeiro evita o travamento das rodas em frenagens bruscas, facilitando o controle do veículo em situações de emergência e permitindo manter seu controle direcional, o segundo distribui a força de frenagem entre as rodas dianteira e traseira.

Na pista de testes da Honda em Rio Preto da Eva, a cerca de 80 km de Manaus, onde tive o primeiro contato com a NC 700X, o modelo mostrou-se bastante estável e ágil, bem de acordo com sua proposta. No trecho de slalom, as mudanças de direção eram facilmente feitas e, mesmo, em altas velocidades o conjunto mostrou-se firme.

As suspensões também absorveram bem as imperfeições da pista especial com paralelepípedos e os freios, mesmo sem o sistema ABS, foram suficientes para parar os 202 kg a seco (206 kg na versão com ABS).

Primeiras impressões

Com um desenho moderno e atraente, a NC 700X tem um porte imponente. Logo ao montar no novo modelo, nota-se que a massa é bem centralizada – em função da posição do motor e também do tanque de combustível. O banco é largo e macio e parece proporcionar conforto até mesmo em viagens longas – porém rodamos poucos quilômetros na pista de alta velocidade da Honda.

Nota-se ainda o painel digital simples, porém completo, e o para brisa que se mostrou eficaz. Ponto positivo para os punhos novos e bem acabados no modelo – diferenciando-se dos punhos antiquados de outras motos da marca, como a Transalp, por exemplo. O bom acabamento só é prejudicado pelo guidão, bastante fino e espartano, lembrando o guidão de motos menores.

Já o motor impressiona pela baixa emissão de ruídos e ausência de vibrações. Ao ligá-lo da primeira vez fiquei até mesmo em dúvida se já estava funcionando. A estranheza no início também foi causada pelo seu comportamento.

Como as três primeiras marchas – do câmbio de seis velocidades - são bem curtas, o motor parece acabar rápido. Nas primeiras voltas, atingi o limitador de giros a 6.500 rpm em todas as marchas. Foi necessário algum tempo a me acostumar com essas trocas de marchas bem rápidas. Já as três últimas marchas são mais longas, privilegiando a economia de combustível e o conforto em estradas.

Mas em contrapartida o motor parece ficar mais preguiçoso em quinta e sexta marcha – os giros demoram a crescer e a velocidade também. Não consegui ultrapassar mais de 174 km/h (no velocímetro) e os pilotos de teste da Honda me confidenciaram que a velocidade máxima fica em torno de 185 km/h. O propulsor pareceu muito mais à vontade para rodar em cidades, onde as acelerações são mais importantes do que a velocidade final. Entretanto, quando se acostuma a cambiar antes que o motor corte, a NC 700X tornou-se uma moto fácil e divertida de pilotar, atendendo bem sua proposta inicial.

Mercado

Apesar de chegar com uma proposta distinta e especificações mais espartanas do que a Transalp, a nova NC 700X vai ter um preço sugerido bem próximo ao da bigtrail com motor em V2. A versão standard da NC 700X está cotada a R$ 27.490 e a versão com freios ABS, R$ 29.990 – o mesmo valor da Transalp sem ABS. Em outros mercados a diferença de preço entre elas é maior. A Honda estima a comercialização de 300 unidades mensais da NC 700X, que será montada em Manaus.

Comparando-a com outros modelos do segmento, caso da Kawasaki Versys 650 que tem propulsor de dois cilindros, mas com 64 cavalos e comportamento mais esportivo, a NC 700X é mais barata. Porém oferece um motor mais fraco (52,5 cv) e uma construção mais simples.
 
FICHA TÉCNICA  Honda NC 700X
 
Motor: Dois cilindros em linha, 669,3 cm³, SOHC, com refrigeração líquida.
 Potência: 52,5 cv a 6.250 rpm
 Torque: 6.4 kgf.m a 4.750 rpm
 Câmbio: Seis marchas.
 Alimentação: Injeção eletrônica.
 Tanque: 14,1 litros.
 Suspensão dianteira: garfo telescópico, com 153,5 mm de curso
Suspensão traseira: Monoamortecedor fixado por links com ajuste de pré-carga da mola e 130 mm de curso
Freio dianteiro: Disco simples de 320 mm de diâmetro com pinça de dois pistões (três na versão com ABS)
Freio traseiro: Disco simples de 220 mm com pistão único (traseiro).
 Quadro: Estrutura tubular
 Dimensões: 2.209 mm x 831mm x 1.284 mm (C x L x A).
Distância entre eixos 1.540 mm
 Altura do Assento 830 mm
 Distância livre ao solo 165 mm
 Peso a seco: 202 kg (206 kg versão com ABS).
 Preço: R$ 27.490 (S/ABS) R$ 29.990 (C/ABS)