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“Precisávamos aumentar as sinergias entre as duas fábricas. Há cerca de um ano começamos a estudar isso e decidimos que a melhor maneira seria transferir para Juiz de Fora toda a produção de cabines, pois é uma planta moderna que tem o estado da arte para a armação (soldagem) e pintura”, disse Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, em conversa com jornalistas chamados à sede da empresa em São Bernardo na sexta-feira, 9. “Levamos tempo para convencer o Sindicato (dos Metalúrgicos do ABC) sobre as mudanças, mas conseguimos, pois provamos que elas garantem o futuro das operações aqui”, completou.
Schiemer disse não saber de onde veio a informação de que São Bernardo receberia investimentos de € 1 bilhão. “Eu desconheço esse número. Certamente não partiu de nós”, afirmou. Talvez a confusão esteja na soma dos investimentos anunciados pela Mercedes-Benz em 2010 (R$ 1,5 bilhão, dos quais R$ 450 milhões foram aplicados na conversão de Juiz de Fora para produzir caminhões), em 2012 (R$ 1 bilhão, que inclui o processo de nacionalização do Actros produzido na planta mineira) e os R$ 730 milhões de agora, que juntos perfazem R$ 3,23 bilhões, próximo de € 1 bilhão.
Acordo salarial e empregos
A cifra vistosa pode ter sido usada como bônus político pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que aceitou fechar um acordo salarial de quatro anos com a Mercedes-Benz. Em troca do investimento, os trabalhadores da fábrica de São Bernardo aprovaram as negociações em votação secreta. As cláusulas econômicas envolvem reajuste zero dos salários em 2014 e correção da inflação apenas pelo INPC nos anos seguintes, até 2017. Em todos os anos haverá pagamento de bônus por participação nos lucros e resultados (PLR), em valor que depende de cálculos de desempenho – mais vantajoso para a empresa que não precisa recolher contribuições previdenciárias sobre esses pagamentos. Também ficou acertado que os novos empregados vão ganhar, em média, 10% menos do que os contratados atuais. Não há garantia de estabilidade.
“Esse acordo nos dá previsibilidade e fortalece os negócios”, disse Schiemer. Ele garantiu que não haverá nenhuma demissão causada pela reestruturação da produção entre as duas fábricas. “O plano não envolve redução de pessoal. Temos excedentes de mão de obra em nossas fábricas hoje (1,7 mil dos 10 mil empregados de São Bernardo e 170 dos 750 de Juiz de Fora). Mas só vamos cortar se o mercado não se recuperar, o que não tem nada a ver com a readequação que estamos fazendo. São pessoas qualificadas nas quais investimos muito dinheiro, não temos interesse em demitir”, destacou.
Ao saber dos planos de transferir a produção do Acelo para São Bernardo, os funcionários de Juiz de Fora entraram em greve nesta semana, pois o caminhão leve representa cerca de 90% da produção prevista para este ano de 12 mil a 13 mil unidades na unidade mineira, que atualmente tem 168 empregados em layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho). “Creio que o sindicato não entendeu nossa proposta. Vamos transferir a montagem final do Acelo em 2016, mas vamos investir para ampliar a fábrica e os que trabalham na linha poderão ser requalificados para trabalhar na solda e pintura”, explicou o executivo.
“É preciso levar em conta que a planta estava muito dependente de apenas dois modelos de caminhões; e o mais produzido lá, o Acelo, é do segmento mais afetado pela crise este ano. Com a transferência da produção de todas as cabines para lá o futuro da fábrica fica garantido”, enfatizou Schiemer. Ele aproveitou também para negar que a montagem do pesado Actros também seria transferida para São Bernardo em 2018, como chegou a ser informado por alguns veículos de imprensa. “Estamos finalizando o processo de nacionalização do Actros (termina em dezembro) e a produção completa continuará em Juiz de Fora, não temos nenhum plano de transferência”, garantiu.
Nova configuração
Schiemer garante que a nova configuração industrial no País trará maior produtividade e competitividade à empresa. O investimento na planta mineira vai duplicar de 40 mil para 80 mil unidades/ano a capacidade de produção das áreas de armação e pintura de cabines. Serão enviadas de São Bernardo para Juiz de Fora as partes estampadas em aço de todas as famílias de caminhões: Axor, Atego, Acelo e algumas peças do Actros, que ainda tem itens importados da Alemanha. As cabines armadas e pintadas regressarão à fábrica paulista de caminhão, quatro a seis por viagem, a depender do modelo, para montagem final com o chassi.
Mesmo com o complexo circuito logístico que será criado nos 511 quilômetros que separam as duas fábricas, Schimer diz que o custo é compensador. “Teremos grandes ganhos de eficiência, pois tiraremos de São Bernardo a produção de algo como 60 mil cabines por ano, o que permite modernizar a planta com novo maquinário e abrir espaço para criar um centro de transformação, que vai customizar os caminhões de acordo os pedidos dos clientes”, conta.
Segundo o executivo, a cabine de pintura de São Bernardo é muito antiga e precisa ser desativada. Não faria sentido investir em uma nova quando já existe outra pronta, moderna e com equipamentos de última geração em Juiz de Fora, que vinha sendo subutilizada. Dessa forma, em um lance de mão dupla, a Mercedes economiza recursos e usa de forma mais inteligente a capacidade integral de suas duas fábricas no País.
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