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Mudanças do Finame são positivas, mas não resolvem crise

23/01/2017 - 15:53 - Automotive Business - Fotos: Divulgação
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As novas regras para financiamento anunciadas na primeira semana do ano pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – podem trazer algum alívio para a crise do setor automotivo. Isso porque as mudanças poderão incentivar diretamente o desempenho do mercado de veículos comerciais pesados (caminhões e ônibus) pelos próximos três anos. As medidas foram bem recebidas pelos principais participantes desse mercado, mas todos são unânimes em afirmar que só o financiamento mais acessível não será suficiente para retomar o crescimento do segmento. Para representantes de fabricantes e distribuidores, só o avanço da economia irá de fato favorecer as vendas. 

- Veja aqui o resumo das novas regras de financiamento pelo BNDES.

- Veja aqui outras estatísticas na página AB Inteligência.

Entre as ações anunciadas, o BNDES prevê pelos próximos três anos o aumento gradual de sua participação nos financiamentos baseados na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) para a aquisição de veículos comerciais pesados denominados limpos – que são os modelos híbridos, elétricos ou movidos a biocombustíveis. Ao mesmo tempo, o BNDES vai diminuir sua colaboração para financiar modelos diesel, também de forma gradual e até 2019 (veja tabela).

Também aumentou dos atuais 70% para 80% o limite do valor dos chamados veículos limpos que poderá ser financiado pelo Finame. O banco ampliou ainda o prazo dos financiamentos da linha, que passa dos atuais cinco para dez anos – isso significa que o empréstimo poderá ser pago durante toda a vida útil de um ônibus, por exemplo, que hoje tem média de 10 anos de uso noas principais cidades do País. A modalidade também passa a contar com três linhas: bens de capital (que inclui aquisição de caminhões e ônibus), produção e modernização. O Finame Leasing foi extinto.

Outra medida é a ampliação do limite de R$ 90 milhões para R$ 300 milhões do faturamento de micro, pequenas e médias empresas (MPME’s) para o enquadramento que permite ter acesso às linhas de crédito.

Falta crescimento

O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, defende as medidas ao mesmo tempo em que ressalta que por si só elas não resolvem definitivamente a crise atual do setor: “O fomento do BNDES é extremamente importante para o negócio de caminhões no Brasil. Vemos com bons olhos as alterações nas regras de financiamento: o mercado é outro e as condições econômicas são outras. Financiar até 80% com a TJLP é saudável, uma mudança que leva em conta a situação do País. Mas não é isso que vai fazer o mercado crescer. Nosso pedido é para que tenha PIB, retomada do crescimento econômico. Independentemente do Finame, o mais importante para o setor de caminhões crescer é o (avanço do) PIB: a economia do Brasil precisa retomar, ainda que lentamente. É isso que vai garantir algum crescimento, mesmo que modesto, porque o que falta mais hoje não é financiamento, é carga para transportar”, avalia. 

Em sua análise, Assumpção considera que para o cenário atual, as novas regras da TJLP são positivas: “Em passado recente, quando tínhamos inflação de 7% e Finame/PSI para comprar caminhão com taxa de 2,5% ao ano, a situação estava desequilibrada. Vendemos muito caminhão para clientes que compraram até além da necessidade, anteciparam as compras. Depois sentimos o efeito desse desequilíbrio. Alguém pagou essa conta mais tarde. Foi mais uma ilusão do que um fato concreto e positivo. Um taxa de juros saudável não é nem muito baixa, nem muito alta. Queremos temperatura média, com taxa compatível com a inflação. O setor precisa de equilíbrio, com mercado e custo adequado de financiamento”, pondera. 

“São medidas muito positivas para o setor, porque englobam mais empresas e dão maior previsibilidade ao mercado”, afirma Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação das montadoras de veículos. “À medida que cai o uso de outras taxas que não a TJLP, isto gera homogeneidade nos negócios, o que é muito positivo para o mercado.” 

Para Alcides Braga, presidente da Anfir, associação das fabricantes de implementos, as medidas representam o amadurecimento de uma histórica reivindicação de todo o setor por regras mais perenes e duradouras: “As perspectivas dos financiamentos, as correções e a forma de variação dos custos ficaram bem mais claras. O ponto mais relevante foi o aumento do valor de enquadramento das micro, pequenas e médias empresas, o que deve trazer um universo muito maior de empresas que possam postular esse crédito”, comenta.

Os primeiros dias do mercado em 2017

Embora o anúncio do BNDES tenha sido feito logo no início do ano, ainda não deve haver efeito imediato nas vendas do setor. Tanto o presidente da Anfavea quanto o da Fenabrave consideram que os primeiros 20 dias de vendas de 2017 estão dentro do esperado. “Os volumes estão alinhados com os de janeiro de 2016 e dentro da previsão”, aponta Megale.

Assumpção Júnior acrescenta que esse ritmo mais brando também deve ser verificado em fevereiro, quando as vendas diminuem tradicionalmente por causa das festividades do carnaval. “Com as novas condições, nossa crença é de que aconteça melhora a partir do terceiro mês do ano, com retomada leve e modesta. A safra de grãos prevista em 209 milhões de toneladas deve puxar o começo dessa recuperação. A colheita e o transporte dos grãos são feitos a partir de março. Mesmo com compra antecipada de caminhões nos últimos anos, a frota nacional ainda é muito velha. Vai ser preciso comprar caminhão novo para dar conta”, finaliza.

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