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Tudo começou em maio de 1875 com a chegada de três famílias italianas – Crippa, Radaelli e Sperafico – ao Rio Grande do Sul. Deixaram seu país de origem, cruzaram o Atlântico e desembarcaram em um pequeno porto, no rio Taquari, na atual cidade de Santa Tereza (RS). Com o mesmo espírito desbravador, nós, da Agência INFOMOTO, rodamos 2.700 quilômetros entre São Paulo e a Serra Gaúcha para conhecer essa saga que comemora 141 anos de muito suor, dedicação, sonhos e conquistas.
Para entender como foi esta aventura, o Parque Temático Epopeia Italiana, na também gaúcha Bento Gonçalves, conta por meio de uma encenação teatral repleta de cenários, cores e luzes a história real de um casal de imigrantes italianos, Lazaro e Rosa, que parte para o Brasil em busca de uma vida melhor. O drama faz os visitantes sentirem as emoções e as dificuldades que os imigrantes enfrentaram desde que saíram da Itália.
No roteiro, passamos por Bento Gonçalves, Santa Tereza, Monte Belo do Sul, Farroupilha e seu pequeno distrito de Nova Milano, num total de pouco mais de 400 quilômetros pela região serrana do Rio Grande do Sul. Nosso guia foi Alexandre Sampaio, engenheiro mecânico de profissão e motociclista por paixão. “Aqui no Sul, o mototurismo vem ganhando cada dia mais adeptos. Contamos com uma boa infraestrutura, um turismo eno-gastronômico bastante forte, além de um clima adequado para se pilotar uma moto, isso sem falar nas belas paisagens”, afirma o moto-aventureiro de origem italiana e com muitas histórias para contar (veja abaixo).
Túnel do Tempo
Nova Milano (Distrito de Farroupilha), Santa Tereza e Monte Belo do Sul formam uma espécie de berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul. A pequena Nova Milano, por exemplo, abrigou as famílias dos pioneiros Stefano Crippa, Tommaso Radaelli e Luigi Sperafico, vindos de Milão (ITA). Em pouco tempo, se adaptaram à agricultura e, posteriormente, os imigrantes abriram um armazém que vendia desde tecidos até querosene.
Em função da importância de seu conjunto arquitetônico, em 2010 o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) instituiu Santa Tereza como patrimônio histórico nacional. Rodar em suas ruas de paralelepípedos e casarios bem conservados é voltar no tempo e imaginar como era a vida dos primeiros imigrantes.
Viajar a Monte Belo do Sul é visitar uma típica vila, uma espécie de cápsula do tempo que mostra o cotidiano das décadas de 1940 e 1950. Ruas de paralelepípedo, gente simples e simpática. Para quem gosta de uma boa comida caseira, não deixe de visitar o Ristaurante Nonna Metilde. Num ambiente rústico – com muita pedra e madeira – e ao mesmo tempo acolhedor, o carro-chefe é a tradicional “pasta”!
Rotas motociclísticas
Para quem gosta de praticar o mototurismo, descobrindo novos aromas e sabores, há dois roteiros imperdíveis: Caminhos de Pedra e Vale dos Vinhedos. Ambos contam com pista simples e boa dose de curvas que serpenteiam toda a região:
• Caminhos de Pedra: Partindo de Bento Gonçalves com destino ao Santuário de Caravaggio, em Farroupilha, o roteiro turístico Caminhos de Pedra é um museu a céu aberto que retrata a cultura camponesa dos primeiros imigrantes. Por meio da arquitetura, dos ofícios e dos costumes, percebe-se a importância do cultivo do tomate e da erva mate para a região. Aliás, é possível experimentar o sorvete de erva mate. Uma delícia! Nesta rota há vinícolas, casa de doces e massas, restaurantes, pousadas etc.
• Vale dos Vinhedos: Neste roteiro eno-gastronômico, o motociclista terá que conter seus ânimos. São dezenas de opções de vinícolas e restaurantes que transportam o turista para a região da Toscana, na Itália. Além de cursos rápidos, degustação de vinhos, há a possibilidade de apreciar jantares típicos regados com música italiana, é claro!
Muitas vinícolas oferecem também hospedagem. Detalhe: algumas vinícolas só abrem suas portas para visitação nos finais de semana. Já na Linha São Pedro, uma pequena estrada vicinal, há diversas vinícolas menores que trabalham de forma artesanal. Como acontece em outros países, hoje em função de sua qualidade e personalidade de seus vinhos, a região ganhou a “Denominação de Origem”. É a primeira região a ser reconhecida com Indicação Geográfica.
Pontos turísticos
• Monumento ao Centenário da Imigração Italiana – Fica às margens da rodovia RS 122, em Nova Milano. Construído em 1975, a estrutura metálica é inspirada nas três primeiras famílias de imigrantes italianos que chegaram a Farroupilha. A área passa por reformas.
• Casa de Pedra - Museu Histórico – Foi construída entre 1890 e 1896 e utilizada como moradia e casa comercial da família Fin. No seu acervo estão utensílios, móveis e ferramentas domésticas que retratam a colonização italiana. Fica na Rua Domênico Fin, no bairro Nova Vicenza, em Farroupilha.
• Parque Temático Epopeia Italiana – No centro de Bento Gonçalves traz uma representação, em forma lúdica, da chegada de um casal italiano ao Brasil. Os ingressos custam entre R$ 21 e R$ 25. www.giordaniturismo.com.br
• Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio - Ponto turístico-religioso encravado no topo da serra. Local de peregrinação, o destaque fica para a velha matriz, ou Capela dos Ex-Votos, inaugurada em 1890 pelos imigrantes. Do santuário parte uma das motos-romaria mais tradicionais do Brasil, que no ano passado reuniu mais de 20 mil pessoas. O evento acontece no mês de maio. Apesar do piso irregular de pedra, o trajeto seguindo os “Caminhos de Pedra” até o santuário está bem sinalizado. www.caravaggio.org.br
• Passeio de Maria Fumaça – Percurso de 23 quilômetros, com duas horas de duração, entre Carlos Barbosa e Garibaldi. Dentro da locomotiva do século XIX, os turistas acompanham performances e shows musicais. No desembarque, a festa se completa com a degustação de espumante moscatel e suco de uva. O preço do passeio por pessoa custa entre R$ 98 (baixa temporada) e R$ 107 (alta temporada). www.giordaniturismo.com.br
• Cantinas Históricas – Saborear a comida típica italiana, provar um bom vinho e, de quebra, ter o privilégio de visitar locais carregados de história. São seis cantinas integrantes do roteiro. www.cantinashistoricas.com.br
Movido pelo motociclismo
De ascendência italiana por parte de mãe, Alexandre Sampaio cruzou o país de cabo-a-rabo em longas viagens de moto – rodou pela Transamazônica e do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS) –, além de fazer incursões pela América Latina e Europa. Motociclista desde 1985, o engenheiro já teve todo tipo de moto, das populares Honda CG e Yamaha YBR, passando pela trail Yamaha XT 660R, e hoje pilota uma Harley-Davidson Sportster 1200.
Em uma casa que só se respira moto (seu filho é piloto de motovelocidade e a esposa dirigente da Confederação Brasileira de Motociclismo), Alexandre Sampaio se dedicou a escrever o livro: “Na estrada em Duas Rodas”. Leitura indispensável para quem curte viagens de moto. Em 192 páginas, o moto-aventureiro relata sua experiência de rodar 65.000 km e cruzar sete países da América do Sul com uma pequena Yamaha YBR 125.
H-D Heritage, construída para a estrada
Neste tour até o Rio Grande dos Sul rodei mais de 2.700 quilômetros – entre ida e volta – com a Harley-Davidson Softail Heritage 2016. Renovada para este ano, a Heritage oferece conforto e boa ergonomia para encarar uma longa viagem, além de um novo motor maior – passou de 1585 cm³ para 1690 cm³ -, que tem mais torque.
Depois dos três mil giros – sexta marcha over-drive acionada –, o modelo se torna um “brinquedão”, sempre na mão. O assento em forma de sela a apenas 690 mm do solo também ajuda manobras em baixa velocidade.
Para facilitar ainda mais a vida do motociclista, a Heritage 2016 ganhou Cruise Control de série – o tal piloto automático. Simples e fácil de acionar, é um item de conforto para jornadas mais longas. O consumo de combustível foi de 18 km/l (estrada), com velocidade variando entre 90 km/h e 120 km/h. Conta ainda com boa proteção aerodinâmica (escudo frontal destacável) e alforjes laterais que acomodaram bem minha bagagem e equipamentos.
A autonomia permite rodar cerca 250 km de uma “tacada só”! Em toda a viagem parava a cada 220 km rodados para abastecer a moto, esticar as pernas, comer algo e me hidratar. Saí de Porto Alegre às 6h30 e cheguei na porta da minha casa em São Paulo às 21h45. Com cinco paradas para abastecimento na volta! Uma viagem cansativa, porém prazerosa.
No melhor estilo “classic custom”, esta integrante da família Softail desperta olhares curiosos. Além disso, a moto é ferramenta de socialização. Nas paradas, frentistas e motoristas perguntavam o ano do modelo e muitos duvidavam que se tratava de uma Harley 2016. Ao guidão da Heritage, o importante é chegar, sem pressa, só curtindo a moto, a estrada e também a paisagem, que muda muito ao longo do caminho. Para mim, foi uma imersão e um resgate da história da imigração italiana, da qual minha família faz parte. Salute!
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