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O motor, aliás, é uma das características marcantes desta e de outras Ducati. Sua tradicional arquitetura de dois cilindros em “L”, ou seja, um V2 a 90° é que dá personalidade a essa naked. Ainda refrigerado a ar, porém em uma nova versão de 803 cm³ com injeção eletrônica e capaz de gerar 87 cavalos de potência máxima a 8.250 rpm. Espirituoso, o propulsor pede giros mais altos e mostra sua força somente a partir de 4.000 rotações, quando funciona de maneira mais linear – abaixo disso vibra bastante e demonstra alguns “buracos” na aceleração. Sua estreita faixa de utilização entre o torque máximo de 7,95 kgf.m a 6.250 rpm e a potência máxima pouco acima dos 8.000 giros faz dele um propulsor de espírito esportivo. O que pode ser divertido para alguns, mas irritante para outros.
Para curtir o motor desta Monster 796 esqueça a suavidade dos propulsores de quatro cilindros em linha de suas concorrentes, como a Kawasaki Z 800 ou a Suzuki GSR 750. Esse bicilíndrico é mais ríspido e “temperamental”, exige concentração do piloto e trocas de marchas em busca da rotação ideal. Ajuda nessa tarefa a nova e macia embreagem multidisco de acionamento hidráulico – seu braço esquerdo vai agradecer, uma vez que o seu pé terá bastante trabalho no câmbio de seis marchas. O bom é que com exceção da primeira, mais difícil de engatar, todas as marchas tinham engates precisos e suaves.
Mas aqueles que, assim como eu, curtem o prazer de procurar a rotação ideal do motor irão se divertir bastante com os 87 cv da Monster 796. Em altos giros, o ronco do propulsor fica encorpado, as vibrações diminuem, mas mesmo assim os espelhos retrovisores ainda mostram uma imagem parecida com as pinceladas de uma pintura impressionista. A potência declarada pode não encher os olhos dos fanáticos por especificações técnicas, mas não assusta aos pilotos menos experientes e nem chateia os motociclistas acostumados às cavalarias na casa dos três dígitos. O suficiente para manter uma boa velocidade de cruzeiro na estrada e para levar a Monster a pouco mais de 200 km/h.
Mas essa tocada mais esportiva acaba cobrando no consumo. Em mais de 500 km percorridos, o consumo da Monster 796 variou entre 15,15 km/l em rodovias com velocidades mais altas e 17,5 km/l em uma estrada sinuosa. Um pouco alto para sua categoria, mas esse não é o único problema. A questão é que o tanque desta versão com ABS é de apenas 13,5 litros de capacidade, resultando em uma autonomia de pouco mais de 200 km, mas a luz de reserva (não há marcador de combustível) acendeu nos três abastecimentos já aos 170 km rodados. Pouco se você pretende fazer longas viagens com essa naked.
Ciclística leve
Desde as primeiras versões da Monster a leveza do design traduz-se também em baixo peso. No caso da 796, são 167 kg a seco (188 kg em ordem de marcha). Bem abaixo das concorrentes: a Kawasaki Z 800 pesa 231 kg em ordem de marcha e a Suzuki GSR 750, 213 kg.
O baixo peso é alcançado em função do quadro que, apesar de ser de aço, é em treliça e o subquadro de alumínio. Alumínio moldado sob pressão também dá formas ao belo monobraço traseiro, que deixa exposta a roda de cinco pontas (também em alumínio).
Em função da sua construção, a Monster 796 é uma naked bastante ágil e precisa nas curvas. As suspensões - garfo invertido telescópico na dianteira e o monoamortecedor traseiro - são bem firmes, porém com pouco curso, o que pode fazer com que o conjunto se comporte de forma inesperada e saia da trajetória em superfícies onduladas – uma pena não haver ajustes. Por outro lado são ótimas para pilotar esportivamente em uma estrada de asfalto bom, fazendo com que a Monster entre rapidamente nas curvas.
A posição de pilotagem é também típica das versões anteriores da Monster: coluna ereta, pernas mais flexionadas do que em outras nakeds, mas com um guidão aberto e um pouco mais elevado. O banco tem bastante espuma e também foi confortável nos quase 500 km do teste.
Os freios são destaque nas especificações: as pinças da marca Brembo são fixadas radialmente e param dois discos de 320 mm na roda dianteira; na traseira, um disco de 245 mm de diâmetro fixado ao cubo da roda com pinça de dois pistões. Funcionam muito bem para frear a Monster 796 na cidade e estradas, mas ficaram devendo mais eficácia em uma pilotagem esportiva. Em uma serra bem sinuosa com mais ímpeto no acelerador e frenagens fortes a Monster parecia demorar a parar, mesmo com os flexíveis em malha de aço (aeroquip). Uma hipótese pode ser a baixa quilometragem da unidade testada, que tinha apenas 570 km rodados, e, portanto, as pastilhas podiam não estar ainda bem assentadas. De qualquer forma esperava mais dos freios.
O sistema ABS – que pode ser desligado - funcionou bem e não tirou a diversão de pilotar a Monster 796. Foi, aliás, muito bem vindo na roda traseira em trechos de piso molhado.
Equipamentos
Além do sistema ABS (que não é o de última geração, como o que equipa a Diavel), a Monster 796 não traz muitos outros mimos eletrônicos como controle de tração e modos de pilotagem. Compreensível: trata-se do modelo de entrada para a linha Ducati, mas mesmo assim tem bom acabamento e alguns detalhes refinados como o flexível aeroquip, por exemplo. Os manetes de freio e embreagem trazem ajustes; o guidão de alumínio é muito bem acabado, assim como as pedaleiras. De série, a Monster 796 ainda traz um capa do banca da garupa – que não estava com a unidade testada.
O painel lembra o das Ducati mais esportiva, porém com menos informações. Digital e de fácil leitura traz o conta-giros grande no topo– lembre-se, a diversão deste motor está em mantê-lo da faixa de giro ideal –, velocímetro, relógio e hodômetros. Não há marcador de combustível, apenas a luz de reserva e o “fuel trip”.
Na disputa
Depois de pouco mais de 500 km com essa icônica naked italiana, é fácil entender o sucesso do modelo nos últimos 20 anos. Bela, divertida e espirituosa como uma Ducati sabe ser, a Monster 796 porém não é para todos. Não que seu preço de R$ 37.900 seja mais elevado do que suas concorrentes, pois não é. A Kawasaki Z 800 com freios ABS sai por R$ 38.990 e a Suzuki GSR 750, R$ 36.990. Mas porque não irá agradar ao motociclista que busca uma moto mais amigável para pilotar sem muito esforço no dia a dia.
Agora, se você quer emoção nos passeios de fim de semana com o sangue quente das italianas a Monster é uma boa escolha. Não tem nem pouca e nem muita potência; não é assim tão cara, divertida de guiar e linda de se ver. Além disso, carrega no seu tanque de combustível uma das marcas mais famosas de todos os tempos: Ducati.
Ficha técnica Ducati Monster 796 ABS
Motor Dois cilindros em L (V a 90°), dois válvulas por cilindro e arrefecimento a ar
Capacidade cúbica 803 cm³
Potência máxima (declarada) 87 cv a 8.250 rpm
Torque máximo (declarado) 7,95 kgf.m a 6.250 rpm
Câmbio Seis marchas
Transmissão final por corrente
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro Aço tubular em treliça
Suspensão dianteira Garfo telescópico invertido (upside down) com 43 mm de diâmetro e 120 mm de curso da roda
Suspensão traseira monobraço com um conjunto amortecedor-mola ajustável com 148 mm de curso da roda
Freio dianteiro Disco duplo de 320 mm de diâmetro com pinça radial de quatro pistões (ABS)
Freio traseiro Disco simples de 245 mm de diâmetro com pinça de dois pistões (ABS)
Pneus Pirelli Diablo Rosso 120/70-17 (diant.)/ 180/55-17 (tras.)
Comprimento 2.114 mm
Largura 784 mm (com retrovisores)
Altura 1079 mm
Distância entre-eixos 1.450 mm
Distância do solo Não disponível
Altura do assento 800 mm
Peso em ordem de marcha 188 kg
Peso a seco 169 kg
Tanque de combustível 13,5 litros
Cores Vermelha
Preço sugerido R$ 37.900,00
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