Se o objetivo era aproximar os gadgets do universo digital à experiência “analógica” e mundana de pilotar uma clássica motocicleta touring com o novo sistema de infotainment Ride Command, a Indian Motorcycle acertou em cheio. Com tela colorida de 7 polegadas sensível ao toque, navegador e diversas informações é como ter um tablet com uma moto já incluída no pacote. As opções de moto incluem a touring Roadmaster e também a bagger Chieftain 2017.
Brincadeiras à parte, a Roadmaster, avaliada, não sofreu mudanças mecânicas significativas. Apenas a adoção da nova central multimídia, mas que tornou a experiência de viajar com modelo mais luxuoso da marca norte-americana mais confortável e, por que não dizer, divertida.
Há seis telas no novo Ride Command: navegação por GPS; conexão Bluetooth com o smartphone e intercomunicadores; uma tela de música; e outras três personalizáveis, que podem ser divididas em duas, com informações da moto e do percurso. Para começar a diversão, o primeiro passo foi conectar meu smartphone com o sistema. Tudo fácil e intuitivo.
Pode-se usar a tela sensível ao toque até mesmo com luvas – pelo menos aquelas feitas para isso - e deslizar entre as telas, ou simplesmente apertar um dos quatro grandes botões abaixo da tela, que servem como “atalhos”.
Vale destacar a rapidez de processamento do sistema: em poucos segundos após ligar a moto já aparece um alerta para não desviar a atenção da estrada (tudo em português do Brasil, outro ponto positivo da central da Indian).
Em alguns minutos, consegui conectar meu celular e minha playlist já estava disponível para ouvir através do sistema de som.
Como o objetivo era avaliar e conhecer o sistema Ride Command, decidimos escolher um destino final para nosso teste: a Bolsa do Café, em Santos, no litoral paulista. O GPS funciona como outro qualquer, pode-se buscar endereços ou pontos de interesse (POI).
Talvez pela distância, o charmoso edifício de 1922 que hoje abriga um museu do café não aparecia entre os pontos de interesse. Foi preciso fazer uma pesquisa pelo endereço do local na internet. Com a direção exata, a busca pelo endereço foi um pouco complicada. Primeiro procura-se pela cidade, mas aparecia uma lista com 500 munícipios e descer a barra de rolagem até a letra “S” não era uma opção. A dica é dar um espaço após a palavra “Santos” e pronto: já aparecia Santos, SP na tela do GPS. Buscar pelo número 95 da Rua XV de Novembro foi, entretanto, mais simples e rápido.
A estrada de Santos
O GPS não informa o tempo estimado como outros aplicativos de navegação, mas mostrava a distância de 56 km até o centro velho de Santos. Por outro lado, a tela funciona como a de um tablet ou smartphone: pode-se ampliar ou reduzir a imagem do GPS com dois dedos. Outro ponto inovador do sistema.
O fotógrafo acomodou seu equipamento no enorme topcase – que leva dois capacetes fechados com folga – e sentou-se na confortável garupa. Rumamos então para o litoral pela Rodovia dos Imigrantes. A 120 km/h em sexta marcha, o grande motor V2 gira a 2.500 rpm e o consumo instantâneo marcava cerca de 5,6 litros por 100 km (padrão europeu), o que dá cerca de 17,8 km/litro. A média foi de 5,9 litros por 100 km – ou 16,9 km/l como estamos acostumados.
Não havia o tempo restante da viagem, mas nas outras três telas não faltavam informações sobre a moto e o percurso. É possível fazer uma lista com o que é mostrado, mas as mais interessantes são: a pressão dos pneus e o nível do aquecedor de manoplas e da carga da bateria na tela “Condição do Veículo”; na “Parcial 1”, a autonomia e a quilometragem parcial, além do consumo médio e instantâneo; em “Info Veículo”, a velocidade e a rotação do motor de forma digital, além da marcha engatada.
Na tela “Dados do Percurso”, o tempo em movimento e parado, e um altímetro, que vai agradar os viajantes que vão para a Cordilheira dos Andes. O sistema registrava a altitude de 746 m na Zona Sul de São Paulo e depois mostrou a variação de altitude no trajeto até Santos, onde apontou “0 (zero) metros” acima do nível do mar. Estávamos na praia.
Música para distrair
Depois de um saboroso café no museu da bebida era hora da sessão de fotos – cansativa, pois não é fácil manobrar os 428 kg em ordem de marcha da Roadmaster nas ruas calçadas de pedra no histórico centro santista. Aliás, o sistema fez a touring ganhar cerca de 6 kg em relação à versão anterior.
De volta à estrada fomos obrigados a subir a Serra do Mar pela sinuosa Rodovia Anchieta, pois um caminhão havia tombado e interrompido a Imigrantes. Uma boa oportunidade para relembrar que o comportamento dinâmico dessa grandalhona Indian é surpreendente.
O conjunto de suspensões e o quadro em alumínio praticamente ignoram a presença da garupa e ela contorna curvas muito bem, mas as ponteiras de escapamento limitam a inclinação.
Como era previsto, um grande engarrafamento no final da serra com diversos caminhões. Foi a hora de aproveitar o renovado sistema de som e curtir uma música para distrair, afinal não é fácil circular entre os caminhões com a Roadmaster: a facilidade de controla-la em velocidades mais altas desaparece e sua desenvoltura em baixa velocidade é semelhante a de um “elefante”.
Ainda bem que o novo sistema de som compensou: são 200 watts na Roadmaster (e 100 W na Chieftain). Além da potência, impressiona também a qualidade e limpeza do som. Mesmo em alta velocidade – ou cercado por caminhões – era possível curtir os acordes de “Mr. Tambourine Man” dedilhados pelo vencedor do Nobel de Literatura, Bob Dylan, na minha playlist de “Hits dos anos 60”.
Sistema dá vantagem à Indian
Mesmo desperdiçando uma hora e meia com o trânsito carregado, o bate-e-volta de pouco mais de 100 km até o litoral foi recompensador. Afinal, um dia ruim e moto é melhor do que um dia bom sem moto. Mas também porque a luxuosa touring é uma delícia de pilotar na estrada (reforço, na estrada): vibra pouco, tem torque de sobra e oferece muito conforto.
Com a adição do novo sistema Ride Command, a Roadmaster 2017 ganha certa vantagem sobre a concorrência (leia-se, Harley Davidson Ultra Limited). Sua central multimídia é mais completa e intuitiva do que a dos modelos Harley e a qualidade do som também me pareceu melhor.
Caso você tenha curtido esse novo tablet, que vem com uma moto incluída, saiba que o preço é um pouco salgado: o modelo 2017 da Roadmaster é vendido a partir de R$ 104.990, contra os R$ 95.900 da H-D Ultra Limited. Mas o “tablet”, que inclui a bagger Indian Chieftain sai mais em conta: R$ 92.990.
Ficha Técnica - Indian Roadmaster 2017
Motor Thunderstroke 111, com dois cilindros em “V” e refrigeração mista ar e óleo
Capacidade 1.818 cm³
Câmbio Seis velocidades
Potência máxima ND
Torque máximo 16,48 kgf.m a 3.000 rpm
Suspensão dianteira Garfo telescópico de 46 mm de diâmetro e 119 mm de curso
Suspensão traseira Monoamortecedor com 114 mm de curso e ajuste pneumático na pré-carga da mola
Freio dianteiro Disco duplo flutuante de 300 mm com pinça de quatro pistões e ABS
Freio traseiro Disco simples de 300 mm com pinça de dois pistões e ABS
Pneu dianteiro 130/90-16
Pneu traseiro 180/60 - 16
Comprimento 2.656 mm
Largura 1.000 mm
Altura 1.572 mm
Entre-eixos 1.668 mm
Altura do assento 673 mm
Peso (em ordem de marcha) 428 kg
Tanque de combustível 20,8 l
Cor Thunder Black e Black&Grey
Preço R$ 104.990