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Clique aqui e confira a ficha técnica do RS.
Mas também parece um contrassenso lançar um compacto envenenado de fábrica com carroceria popular, com alto consumo de combustível (a Renault não informa sua medição porque alega não ter inscrito o RS no Compet/Inmetro) e maior quantidade de componentes importados (motor e câmbio vêm da França), justamente no momento em que a legislação brasileira, via Inovar-Auto, exige das montadoras aumento de compras locais e maior eficiência energética. Porém, para a Renault, parece valer a pena: “Vale porque traz muito valor à marca”, diz Bruno Hohmann, diretor de marketing da fabricante no Brasil.
O Sandero RS é o primeiro modelo desenvolvido pela divisão de alto desempenho da montadora, a Renault Sport, fabricado fora da França. Nada de mais, já que só na América Latina os modelos da romena Dacia, que pertence à montadora francesa, são produzidos com a marca Renault. Portanto, apesar de ter sido desenvolvido pela engenharia da Renault Sport em conjunto com engenheiros sediados na subsidiária brasileira, a versão RS do Sandero é mais uma jabuticaba, fruta típica do País, só para consumo interno.
Por isso o modelo será vendido apenas no próprio Brasil, na vizinha Argentina, México e talvez alguns outros países sul-americanos. Isso porque esse tipo de oferta que tenta transformar modelo popular em carro de alto desempenho não encontra fregueses em países europeus, onde existem opções com melhor acabamento e desempenho superior, quase todas com motores turbinados que privilegiam a economia sem perda de performance – a começar pela própria Renault que desenvolveu e vende na Europa versões RS apimentadas do Clio 1.6 com 200 cv e Mégane 2.0 de 275 cv, ambas com turbo e câmbio automático de dupla embreagem e seis velocidades. Em 2014 a Renault vendeu 37 mil carros RS.
Preparação esportiva
“O Brasil tem história de versões esportivas (de modelos convencionais) e os brasileiros gostam disso, mas depois da abertura do mercado nos anos 90 ficaram sem essas opções. No máximo foram lançados carros comuns com uma sigla esportiva. Há dois anos a Renault começou a estudar esse mercado e descobriu que existe espaço. Por isso decidimos desenvolver e lançar uma versão esportiva verdadeira”, explica Hohmann. “O público para esse carro é formado essencialmente por homens na faixa dos 28 a 35 anos, que são apaixonados por carros e desempenho, até em videogames, mas que até agora não tinham uma opção por esse valor no mercado brasileiro”, acrescenta o diretor de marketing.
De fato, não é apenas uma sigla o RS estampado logo abaixo do losango Renault na grade dianteira do Sandero – e também na tampa traseira, no volante e nos encostos de cabeça. A engenharia da Renault Sport precisou trabalhar duro para introduzir alguma esportividade a um modelo comum. O projeto consumiu 120 mil horas de desenvolvimento e foi conduzido por 75 engenheiros, que testaram 30 protótipos em 250 mil km por estradas da Argentina, França, Espanha e do Brasil.
A suspensão da versão RS foi redesenhada para garantir maior estabilidade, o centro de gravidade do veículo está 26 milímetros mais baixo, as molas e as barras estabilizadoras são mais rígidas do que no Sandero convencional. Foram instalados parrudos freios a disco nas quatro rodas, capazes de fazer o carro parar de 100 a 0 km/h em 37,4 metros. O Sandero RS também conta com controle eletrônico de estabilidade e tração (ESP com ASR) e direção assistida eletro-hidráulica, que isola o volante do motor e não rouba potência. Por meio de um botão no console central, o motorista pode escolher três modos de condução: Standard, com ESP e ASR ligados; Sport, que mantém o ESP ativo mas altera o mapeamento eletrônico de injeção e deixa o carro mais “esperto”; e o Sport+, que desliga ESP e ASR para deixar o carro totalmente na mão do piloto.
Para tirar um pouco mais de potência do motor 2.0 aspirado, o coletor de admissão foi aumentado em 20%, assim como a pressão de injeção de combustível foi elevada em 20%, e a central eletrônica de gerenciamento (ECU) foi remapeada para privilegiar o desempenho. Pelo mesmo motivo o câmbio manual de seis marchas teve as relações bastante reduzidas, exigindo trocas mais constantes, e a velocidade máxima de 202 km/h só é atingida em sexta marcha. O escapamento foi reprojetado para manter a compressão do motor mais alta e apresentar ronco esportivo. Os pneus são especialmente fornecidos pela Continental, em duas opções de alta performance: Conti Power Contact 195/55 para as rodas de série de 16 polegadas, ou o Contact 3 205/45 para as rodas de 17 polegadas, o único opcional da versão RS, que acrescenta R$ 1 mil ao preço básico de R$ 58.880.
O Sandero RS também recebeu a cosmética esportiva por dentro e por fora. O visual externo se diferencia das outras versões principalmente pelas luzes de LED na dianteira, aerofólio maior, saias e para-choques com design exclusivo, faixas pretas pintadas nas laterais com a inscrição “Renault Sport” e o logo RS na grade frontal e na tampa traseira. Na cabine, o volante revestido em couro é o mesmo do Clio RS vendido na Europa, enquanto os bancos têm faixas branca e vermelha e desenho anatômico que acolhe melhor os ocupantes nas curvas. O pacote de equipamentos é completo, incluindo a central multimídia com navegador Media Nav, ar-condicionado eletrônico e acionamento elétrico de travas e vidros – que por mesquinharia de fábrica não tem função de levantamento automático com um toque, como tem a maioria dos carros nessa faixa de preço.
É um RS, mas é um Sandero
Na prática, rodando por estradas do interior paulista e em uma pista de corrida, o Sandero RS é de fato bastante esperto, tem acelerações e retomadas fortes, entra justo e estável nas curvas, mas tudo dentro dos limites de um carro com motor de 150 cavalos. O acabamento interno de painel e portas segue sendo bastante simples. Ou seja, apesar do bom trabalho da engenharia, o RS brasileiro continua a ter as limitações de um Sandero.
Talvez por isso mesmo o nome Sandero foi estrategicamente removido da tampa traseira do veículo, onde só consta RS de um lado e Renault Sport de outro, quase que como se a divisão ficasse constrangida em colocar sua sigla ao lado de um modelo de baixo custo. “O foco foi manter a identidade esportiva em primeiro plano”, justifica Hohmann. Ao menos por enquanto, é o máximo da esportividade que a indústria automotiva brasileira consegue oferecer por R$ 60 mil.
GT Line: opção cosmética
Ao mesmo tempo que lança o RS, a Renault também começa a vender em suas concessionárias o Sandero GT Line, com o mesmo motor 1.6 de 106 cavalos e câmbio manual de cinco marchas que equipa as demais versões do modelo. Sai por R$ 48.990 e não tem opcionais, vem completo, com nível de equipamentos igual ao da versão Dynamic, mas custa cerca de R$ 2,5 mil a mais que esta. Tudo para ter um carro com visual esportivo parecido com o do RS, mas sem nenhuma esportividade real, é só fantasia.
Clique aqui e confira a ficha técnica do GT Line.
A Renault estima que o visual esportivo deverá atrair cerca de 300 clientes por mês, 3,6 mil por ano, mas neste caso não serão só consumidores novos, como se espera do RS. Parte considerável da clientela deverá vir de pessoas que originalmente iriam comprar o Sandero Dynamic, avalia Hohmann.
Com a chegada das opções RS e GT Line, a linha Sandero agora passa a contar com 11 versões, três 1.0, quatro 1.6 manual, três 1.6 com câmbio automatizado e uma 2.0, com preços que vão de R$ 37,8 mil a R$ 58,9 mil. De janeiro a agosto deste ano o Sandero foi o oitavo automóvel mais vendido do País, com 51,9 mil unidades emplacadas, o que representou retração de 13% sobre os quase 60 mil comprados no mesmo período de 2014, quando o carro era o nono mais emplacado. O modelo é o campeão da Renault, que vendeu 95,4 mil Sandero no ano passado ou 40% do total vendido pela marca.
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