Compra do primeiro carro: como a falta de planejamento financeiro pode comprometer o sonho

Por Márcio Massani

Mesmo com os juros para financiamento de automóveis atingindo níveis históricos, segundo dados do Banco Central, o brasileiro não abandona o sonho de comprar seu primeiro carro. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entre janeiro e julho de 2025 foram emplacados 1.060.352 carros no Brasil, um crescimento de 3% em relação ao mesmo período do ano passado.

O resultado dessa realidade é que muitos consumidores estão comprando seus veículos, mas acumulando dívidas no processo. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou uma pesquisa que constatou que 78,5% das famílias brasileiras estavam endividadas. Destas, 9,2% têm dívidas relacionadas a financiamentos de carros, um aumento de 0,8 p.p. em relação a julho de 2024.

Por um lado, é compreensível que o carro seja uma necessidade inadiável para muitas pessoas, como no caso de famílias que precisam de um modelo maior para acomodar todos os integrantes do núcleo familiar. No entanto, parte desse problema está ligado à falta de planejamento financeiro e à pressão cultural em torno do automóvel, fatores que levam os consumidores a ignorarem os riscos de dívidas de longo prazo.

Primeiro automóvel sem surpresas

Ao se depararem com juros altos nos financiamentos, muitos consumidores têm buscado alternativas para realizar o sonho do primeiro carro. Nesse cenário, o mercado de consórcios se destaca como o maior beneficiado por essa mudança de comportamento, com o segmento de veículos leves registrando 4,97 milhões de participantes ativos em abril de 2025, um aumento de 8,5% em relação a 2024. O número de cotas comercializadas também avançou 14,6% no primeiro quadrimestre deste ano, totalizando 631.900.

O consórcio se torna cada vez mais atrativo por oferecer parcelas acessíveis e taxas de administração menores do que os juros dos financiamentos tradicionais. A previsibilidade também é uma vantagem, já que os reajustes, em geral, seguem o IGPM, evitando surpresas para o consumidor.

Esses fatores tornam os consórcios uma escolha inteligente para quem quer se planejar. Em muitas simulações, esperar pela contemplação acaba sendo mais vantajoso do que enfrentar o estresse das dívidas de financiamento. Mesmo para os apaixonados por automobilismo que buscam o primeiro carro, a modalidade oferece vantagens, pois a carta de crédito permite uma compra à vista na concessionária, abrindo mais possibilidades de negociação.

Felizmente, a digitalização também contribui, hoje é possível pesquisar, comparar e simular consórcios em poucos cliques. Embora existam diferentes tipos de grupos e regras, o ponto principal é compreender que a compra do primeiro carro deve significar conforto e liberdade, e não aprisionamento em dívidas, e a diferença entre os dois resultados está no planejamento financeiro.

Seu primeiro carro não é uma corrida

Entrar em um compromisso financeiro de longo prazo não significa desistir do sonho do automóvel. Pelo contrário, quando mais cedo esse desejo aparece como um sonho, e não como uma urgência, maior a oportunidade de planejar e aproveitar as vantagens.

Para muitos, o primeiro carro também é a primeira experiência com uma compra de grande porte, que exige disciplina ao longo de meses ou anos. Essa é uma chance valiosa de desenvolver educação financeira na prática, começando pela pesquisa extensa de mercado para encontrar o melhor acordo, analisar o impacto das parcelas no orçamento e escolher alternativa que melhor se encaixa no momento de vida.

Outro ponto importante é lembrar que o carro traz despesas além da compra, como manutenção, impostos e seguro. Por isso, garantir que a aquisição seja feta de forma consciente é essencial para que o veículo seja sinônimo de conquista e tranquilidade, e não de preocupação.

Márcio Massani é Diretor Executivo-Comercial na Âncora Consórcios.