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Rodamos 300 km com a Spyder RS-S para saber como se comporta a versão esportiva do inusitado triciclo Can-Am

05/08/2011 - 17:19 - TEXTO: Arthur Caldeira / Agência INFOMOTO - FOTOS: Doni Castilho / Agência INFOMOTO
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Ampliando a gama de modelos do seu inovador triciclo Can-Am Spyder, a BRP, divisão de produtos recreativos da Bombardier, trouxe para o Brasil agora em 2011 a versão RS-S. Com pintura fosca em todo o veículo, spoilers dianteiros, rodas de liga-leve de seis pontas e um assento diferenciado, o Spyder RS-S aposta nesse visual diferenciado para parecer mais esportivo. Porém, na prática e mecanicamente não traz novidades. A mesma arquitetura em “Y” – com duas rodas na dianteira e uma roda motriz na traseira – equipada com muita tecnologia embarcada para segurar a fúria do propulsor de dois cilindros em “V”.

Feito para quem quer experimentar uma nova forma de pilotar ou simplesmente para quem quer convencer a esposa (ou namorada) a subir na garupa e viajar, o Spyder RS-S traz diversos controles eletrônicos para evitar acidentes: controle de estabilidade, para evitar capotagens ou trajetórias erradas em curvas; controle de tração para evitar derrapagens na roda traseira; e eficientes freios a disco com sistema ABS acionados por um pedal, mas que atuam nas três rodas.

Aprendizado

Toda a eletrônica e a preocupação com a segurança fizeram com que a BRP exigisse entregar o veículo em uma rua calma para que seu representante me desse uma “aula” sobre como pilotar o veículo. Apesar do excesso de cautela, são necessárias algumas dicas mesmo para ligar o Spyder. Ao girar a chave, uma mensagem de segurança na tela de LCD exige que você pressione a tecla “mode”, localizada no painel ou no punho esquerdo. Só então é possível dar a partida no motor. Mas ainda não é possível sair: antes é preciso soltar com o pé o freio de estacionamento, localizado atrás da pedaleira esquerda.

A partir daí, basta engatar a marcha no câmbio seqüencial de cinco velocidades e acelerar. Não com muito ímpeto, pois o motor Rotax de dois cilindros em “V” e 998 cc tem torque de sobra! E nem todo o aparato eletrônico evita uma cantada de pneu, caso o piloto exagere na dose ao girar o acelerador. O pneu traseiro canta e deixa uma marca de borracha no asfalto em arrancadas mais ousadas. Algo um pouco perigoso, mas vale dizer, bem divertido.

As trocas de marchas no câmbio seqüencial são feitas por botões no punho esquerdo: não há embreagem, mas o câmbio não é automático, o piloto precisa subir as marchas. Na hora de reduzir, pode relaxar. Conforme a velocidade diminui ou os freios são acionados, o sistema reduz para uma marcha adequada – até chegar a primeira em caso de parada. As trocas são suaves desde que feitas nas rotações adequadas. Caso tente esticar demais as marchas ou reduzir bruscamente, o câmbio dá trancos. Há ainda marcha ré para se manobrar os 317 kg a seco e os mais de 2,6 metros de comprimento.

Estabilidade

Embora aparente ser muito estável, o Spyder é arisco demais nas mudanças de direção. Aqui vale ressaltar minha inexperiência com triciclos: já pilotei motos e quadris, mas em veículos de três rodas foi minha estreia. Nos primeiros quilômetros, mexia demais o guidão e as respostas no trem dianteiro são instantâneas e chegam a assustar no início, mesmo em retas.

Com o passar do tempo, percebi que tinha de ser um pouco mais suave ao guidão do Spyder. A partir daí pude brincar um pouco mais para testar o desempenho do motor Rotax com injeção eletrônica. Com 107 cavalos de potência máxima declarada (a 8500 rpm), o V2 demonstra bastante vigor e mantém com facilidade 130 km/h. A aceleração, quando se reduz uma marcha, também chama atenção. O torque de 10,6 kgf.m a 6.250 rpm leva em poucos segundos o veículo a 150, 160 km/h. A velocidade máxima ficou em 190 km/h. Mais que suficiente para se viajar com segurança. Já o consumo se assemelhou a de um automóvel: em torno de 12,5 km/l – o tanque tem capacidade para 27 litros.

Nas curvas é que se sente mesmo a eletrônica entrando em ação. Caso você exagere na velocidade ou acelere cedo demais na curva, é possível perceber o VSS (Vehicle Stability System, sistema de estabilidade do veículo) entrar em ação para corrigir sua trajetória. O sistema corta a ignição do motor, a velocidade diminui e é possível retomar o controle do triciclo. De série em todas as versões, a tecnologia embarcada me pareceu fundamental para que qualquer um possa pilotar o Spyder. Na minha opinião, caso não houvesse tal sistema, a pilotagem, principalmente em curvas exigiria certa destreza do piloto.

Identidade

Nem carro e nem moto, o triciclo Can-Am Spyder parece sofrer com certa crise de identidade. Para pilotá-lo, no Brasil, é necessário carteira de habilitação categoria “A”, ou seja, para motocicletas. A lei – e o bom senso também – exige então o uso de capacete. Porém, na hora de passar o pedágio em rodovias, o veículo é tributado como automóvel de passeio. Com seu design inusitado em forma de “Y”, a própria BRP (a divisão de produtos recreativos da Bombardier) evita chamá-lo de triciclo, prefere a nomenclatura roadster.

O Spyder sofre ainda com certo preconceito. Rodei cerca de 300 km e encontrei alguns motociclistas em paradas e postos de combustível. A maioria diz que o Spyder é feito para quem tem medo de moto. Porém, não concordo plenamente com a ideia. Pois a pilotagem não é assim das mais simples: exige certa familiaridade com guidões.

A proposta do Spyder é ser um veículo diferente para viajar: conta até com um pequeno porta-malas na dianteira. Com isso em mente, ponto negativo para o pequeno para brisa da versão RS-S. Na estrada o vento incomoda demais e faz muito barulho. Se você optar por essa versão, reserve algum dinheiro para investir em uma para brisa maior na vasta lista de opcionais do modelo.

Imponente e chamativo, o Can-Am Spyder RS-S, versão mais esportiva e top de linha da família RS, custa praticamente o mesmo que uma moto esportiva: R$ 63.900 (sem frete). A escolha fica por sua conta: três, é demais?

FICHA TÉCNICA Can-Am Spyder RS-S

Motor: Dois cilindros em V, 998 cm³, 8 válvulas, DOHC, arrefecimento líquido.
Potência: 106 cv a 8.500 rpm.
Torque: 10,6 kgfm a 6.250 rpm.
Alimentação: Injeção eletrônica de combustível.
Câmbio: Cinco marchas, automático sequencial com ré. Transmissão final por correia.
Suspensão: Dianteira em duplo A com barra anti-torção (145 mm de curso); traseira por balança monoamortecida com (145 mm de curso ajustável na pré-carga).
Freios: Dianteiros por disco flutuante de 260 mm e pinça de quatro pistões; traseiro com disco de 260 mm com pinça de pistão simples.
Pneus: 165/65-R14 (dianteiros); 225/50-R15 (traseiro).
Chassis: SST Spyder.
Dimensões: 2.667 mm x 1.506 mm x 1.145 mm (C X L X A); 1.727 mm (entre-eixos); 737 mm (altura do assento); 115 mm (distância do solo).
Peso: 317 kg (a seco)
Preço: R$ 63.900 (sem frete)
Cores: Laranja e preto/ Grafite e preto

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